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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Diário de um mestre ascensionado chamado yoshua


Eu nasci na Terra há mais ou menos dois milênios. Tive o privilégio de ter pais, o que hoje em dia não chega a ser tão comum no Planeta. Na atualidade, algumas crianças dispõem apenas de mães, embora tivessem tido pai na função gestora de seus corpos. Muitos pais não estão nem aí para a responsabilidade com os filhos. Comigo aconteceu diferente.

Antes mesmo de chegar eu já era motivo de preocupação para eles. É que o pré-natal de minha mãe foi feito por uma pessoa que era um anjo de criatura. E ele já a certificou, com bastante exatidão, sexo e antecedentes, além de garantir que eu nasceria sadio como se deve a todo menino cujos pais se preocupam em recebe-lo depois de unidos pelo sagrado matrimônio.

Criança, cresci motivada pela virtude da inocência e cercada dos carinhos de minha família - um outro privilégio que tive, quando é tão raro encontrar-se uma família bem estruturada nos dias vigentes.

Aprendi as letras e os números habituais a toda criança que vai à escola. Nas horas de folga, dava-me à brincadeiras junto ao local de trabalho de meu pai. Em ocasiões assim, em que ia à sua oficina, gostava de trabalhar com artesanato. Adorava transformar madeiras em pequenas bigas ou modelar pássaros e figuras que os adultos usavam nas prisões como elementos de tortura.

Jovem, meus pais decidiram que eu deveria freqüentar colégios de maior envergadura e me encaminharam a um internato, onde estive por quase duas décadas em verdadeiro regime de clausura. No mosteiro me eram ensinadas práticas para a vida do corpo e segredos para as virtudes da alma. Comecei a ter gosto por esse tipo de aprendizado.

Na escola de iniciados tive acesso às chaves do conhecimento mais antigo, em que a cultura de povos sábios como os gregos, os egípcios e os do braço oriental, discerniam sobre o passado, o presente e o futuro da humanidade. Bebi em fontes secretas dessa sabedoria milenar e todo o arcabouço de informações me foi colocado à serviço do bem comum.

Não pensem ter sido apenas teórica a fonte de meus conhecimentos, de maneira alguma. Concluído o tempo de clausura, andanças muitas fiz pelo mundo, aproveitando a oralidade das culturas e desenvolvendo a minha psique.

Estive em locais de luxo, hóspede de palácios e mansões majestosas, mas sempre me repatriando nas comunidades pobres - pois aprendi que, nelas, reside a soberana força do poder. Ao disporem de tudo, os ricos acabam por arriscar a perder o todo da lógica do Eu. E quem perde o Eu não sabe nem avaliar a que tipo de pobreza se insere.

Por volta da terceira década de existência, decidi assumir a missão de dividir com outros, todo o aprendizado constituído ao longo dos anos. Era minha intenção primeira, faze-lo instrumento a partir de meu reduto de crença - a que estiveram ligados os meus pais por princípios religiosos. Mas a alma do mundo clamava por ouvir uma voz distanciada dos títulos caprichosos e dos rótulos escravizantes.

Eu sempre me apercebi que Logos não tem dono e, por ser livre, pertence a todos os que não se pertencem. Que a causa da vida - o Amor - não tem preço e nem apreço por quem o sela apenas por motivações vãs. O ambiente da Terra é escola propícia à salutar regeneração das almas movidas pela soberba e pela cobiça, mas a exemplo de todo doente que se nega a se fortalecer com o medicamento amargo, há os que se distanciam dessa verdade.

Reuni em torno de mim alguns virtuosos amigos e me fiz seu conselheiro, sem que eles imaginassem que estavam operando ali comigo a bondosa função de serem eles praticamente modelos exemplares para que minha consciência amadurecida se estabelecesse plena. A todos eu devotei minha melhor parcela de amor A nenhum neguei o pão do espírito tão necessário à fome da alma, tampouco deixei de retribuir o salário justo da orientação correta, que era a forma de prodigalizar o meu trabalho.

Um dia, porém, um deles achou de me expor na roda-viva dos que obtém poder à custa unicamente do lucro. E multiplicou por cada ano de minha existência terrena, o valor minha presença física. Vendeu-me como escravo, sem nem imaginar que com seu gesto, daí a pouco, estaria me libertando-me da prisão do corpo.

Nos instantes finais de minha vida terrena, fui vítima de todo tipo de violência - a mesma pérfida violência que, nos dias atuais, atrai tanto amargor e desídia sobre a Terra. Há os que dizem estar a humanidade resgatando o peso de suas desatenções do passado, o que representa uma certa parcela de verdade. Mas o pior é saber que, endividada de pretéritos delituosos, essa gente por quem dei a minha própria existência, vive numa eterna busca do ouro esquecendo-se de que guarda no território de sua alma, as verdadeiras chaves do saber e da fortuna chamada felicidade. Colocadas a serviço do bem, elas dimensionariam o nível de qualidade de vida da casa onde vivi há mais ou menos dois milênios.


texto de Nonato Albuquerque