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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

POÉTICA. Os dois cães que alimento

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POÉTICA. Os dois cães que alimento

. de Nonato Albuquerque

Há um cão dentro em mim que ladra e morde 
Toda vez que uma palavra insana o provoca. 
Reage bruto e rude, desde que assim o acorde 
E dê a ração da qual se alimenta em sua toca 
Há, no entanto, um outro cão, sereno e calmo, 
Que se faz prestativo e dócil, um cão presente. 
Que me dá segurança e comigo, palmo a palmo, 
Anda, assim eu o deseje, assim eu o alimente. 
Vez em quando me flagro intempestivo e forte 
A bramir raivoso o instinto que eu comporte; 
É que dou talas para que o cão se mostre audaz. 
Toda vez, porém, que um gesto meu insista 
Em ser calmo e dócil, o que mais exponho à vista 
É o cão sereno em mim que vence o cão mordaz.