E se as pessoas do mundo
soubessem ser possível acreditar que a realeza dos sonhos é crível, certamente
o âmago de toda questão que divide as opiniões se aclimataria ao senso do
ideal.
Se deixássemos à margem as
questiúnculas inúteis, que sobrepovoam as discussões do transcendente e
aparentássemos um espírito de abertura ao novo, a sociedade dos homens,
certamente, solidificar-se-ia na magnitude dos seus gestos.
Mas se somos imperdenidos a
ter com os nossos oponentes, a franquia da concórdia, ressaltando apenas os
nossos pontos de vista particulares, idiossincráticos, não poderemos aguardar a
unidade que é a base de toda a vivência humana.
Claro que, aqui, estabelecida
não está a tese de sermos todos objetos do mesmo pensar, termos a mesma
concordância de opiniões – a democracia se estabelece na multi-facetária forma
dos contrários. Mas é preciso abrir-se ao leque de probabilidades que a vida
oferece.
Nas mudanças que contemplamos
nesses sítios, divisamos ainda individualidades vocacionadas ao pensamento individualista
– às vezes, tirânico -, sem projetar filigranas de opor-se a si próprias e
deixar-se abrir às clareiras do novo.
Foi preciso antagonizar-me
comigo mesmo e deixar que a mente absorvesse esses novos sentimentos da alma,
por mais inquietações que eles possam nos envolver.
Passamos uma vida toda,
reticentes à crença simples do aldeião acostumado apenas ao sermão do pároco,
sem discutir um naco do que possa ou não ser possível.
Em meus sonhos terrenos,
agigantaram-se em mim dúvidas e mistérios. Muitos me deixavam terrivelmente abalado,
por não entender seus significados.
Conversava muito com (.....) sobre o negativismo que eles me propiciavam. Ela me
arguia dizendo ser apenas uma bruma que envolve a mente dos humanos, que tudo
esmaecia ao clarão do despertar. E eu me deixava levar por isso.
Despertei do lado que não
pensava ser, com aquela mesma claridade dos pesadelos que me dominavam as
noites de inquietado sono. Neles, o pensamento dominava apenas a crença do
sujeito que sou e não a certeza do que é.
Vezes muitas escrevi sobre o ‘pluf’
do sumir, do deixar de existir. Morrer, para mim, era apenas e tão somente o fim
das vibrações físicas, O fim do existir. O sumir do caso do elefante. A balança
do tempo, nessa dimensão tridimensional a que me lançaram, pesou essa minha
(nossa) teimosia, reivindicando uma grama só de menos implicância com a razão. E
não era da minha razão a competência do ser, mas da razão universal. Essa que
deixa a alma feliz, sem arroubos de conhecimento; sem visão de domínio,
expressando tão somente a pureza do viver.
Quem melhor do que o encontro
com (.....) para significar o valor do existir?
Hoje, posso dizer de lontano: o elefante morre, mas o germe de sua
essência fica. Em dimensão que mortal nenhum consegue observar.
Certa feita, ao lado dela eu
signifiquei a importância da vida e da Terra, ao concluir uma cerimônia de
lançamento e dizer: na próxima encarnação eu queria ser uma árvore. Para ficar
eternamente na Terra.
Continuo a dizer que nada
tenho a dizer sobre arrependimento. Cumpro apenas o meu destino de ser
escritor. Mesmo distante, eu vivo.