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domingo, 16 de fevereiro de 2014

Por uma saudade que bateu agora

Senti uma saudade enorme de Geraldo Filho.
Um amigo meu. Daqueles do peito.
De quando a gente saía e fazia noitadas.
Bebíamos juntos até os dois perderem a conta.
E adorávamos cantar e contar coisas;
reunir-se a outros amigos e sair por aí,
sem destino para chegar, nem hora pra retorno.
Que saudade danada daquele menino bom,
que tinha segredos na alma e não se abria com ninguém.
Que me amava como se ama um amigo,
mas tinha medo de dizer isso com naturalidade.
A saudade me faz voar aos fins de semana na Prainha,
onde a turma - Chico,  Smith - se encontrava e acendia ilusões. Eram tempos em que se podia fazer isso.
Hoje, esse tempo é outro. Geraldo Filho foi se juntar
ao João Paulo, seu outro irmão, que sumiu como bolha.
Estava bem de saúde e de vida e, de repente, puf!
Desapareceu...
Por onde andará GF? Deve estar se lembrando da dupla
Stan Laurel e Oliver Hardy, de quem se comparava,
ao lembrar que ele e o irmão eram gêmeos,
embora não tivessem nascidos no mesmo parto.
“Quando Oliver morreu, Stan entrou em depressão”,
costumava repetir para mim, como a querer dizer
João morreu e eu também para o mundo.
Passou a beber como um louco. Até Smith, o bom Smith,
formando-se em Direito, tentou ajudá-lo a sair disso,
mas ele só vivia para beber e beber. 
Tornou-se um alcoólatra.
Perdeu a luminosidade do olhar. A beleza do riso.
Criou marcas no senho fechado. Carrancuzou-se.
Amou sua mulher como se fora a primeira. A filha, idem.
Embriagou-se nos braços de uma prostituta,
Que não lhe dava amor; lhe dava bebida. 
E era isso a paixão dele. Bebida. 
Distanciou-se. Quando lhe telefonava, ele achava um jeito de desculpar-se. Que estava ocupado. Mentira.
Ele não queria que eu lhe visse como estava.
Um dia, um telefonema me contou que ele partira.
Fui ao seu velório. Lá estava o corpo de Geraldo Filho. Morto.
Não era o Geraldo Filho das noitadas, das brincadeiras,
do riso, da alegria. Do saber fazer uma turma feliz,
bastando para isso que ele estivesse no meio. 
Que adorava "Sociedade dos Poetas Mortos". E alucinav a-se com o romance de Thomas Mann "Morte em Veneza". 
Ele era um pouco, aquele personagem. 
GF se foi. O mundo ficou sem ele. Ele se foi. 
Hoje ele é apenas uma sombra...
Saudade enorme de Gerado Filho.
Ele, eu tenho absoluta certeza como dois e dois são quatro,

Que ele está pensando em mim, agora.
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