É preciso
ouvir a voz do vento norte.
Ela traz notícias de olhares outros
Que a gente
perdeu com os dias;
Esquecidos de
viver, naturalmente,
A melhor
forma de auxiliar-nos.
O vento
norte nos traz notícias
De infâncias
margeadas pelos campos
Molhados da
chuva fina que passou.
Cheiro de
mato verde, barro molhado,
Ovelhas no
pasto devorando o capim.
A matilha de
cães em busca da caça
E a
armadilha onde caí ao fim da tarde.
O vento
norte me faz rememorar
As idas em
junho para o engenho
De seu Pedro
Alves, onde nos tachos
O mel da
cana era farto e soberano.
O bagaço da
cana, os bois na moenda
O sino da
igreja da matriz chamando
Para a hora
do Angelus e a novena.
O vento do
norte me traz paisagens
De uma
existência que parece outra,
Por conta do
tempo já tão avançado.
Das águas
escorrendo nas coxias;
As barragens
feitas para segurá-las;
Do velho
oitão da casa de minha avó,
Onde brincava
com os ossos
Formando a
fazenda de gado que nunca tive.
Doces
lembranças de um passado
Ainda tão
presente em mim, toda vez
Que o vento
sopra acordando em mim
As lembranças
que deixei tão longe.
Um cão que
ladra na noite silenciosa.
O apito do
guarda-noturno. A voz
Do vento norte
ruminando em mim
Todas essas
lembranças. Agora mesmo,
Ele soprou
no beiral da minha janela.
Eu o escuto,
mergulhado em sonhos,
Para aliviar
o passado que não volta nunca.