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domingo, 20 de dezembro de 2015

Por uma canção que deva ter ouvido em outra vida


Estou apaixonado pelo passado musical dos anos 40. Não posso ouvir "Well meet again", de Ross Parker e Hughie Charles que me comovo. Como se eu já a tivesse ouvio e cantado para que, em outra vida, eu pudesse revivê-la como agora que a descobri. 

Para ouvi-la em diversas versões, clique AQUI


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

LITERATURA ESOTÉRICA: o livro de Flournoy



Este livro detalha as experiências de Théodore Flournoy (1854-1920), professor de psicologia na Universidade de Genebra, durante os cinco anos que passou freqüentando as sessões de Hélène Smith, um pseudônimo para Catherine Müller (1861-1929). Smith foi um médium que recebeu mensagens espirituais por meios visuais e auditivas, bem como raps em cima da mesa de seu espírito guia e protetor chamado Leopold. Flournoy estudou Smith e escreveu sobre os diferentes ciclos ela habitadas como ela afirmava ser a reencarnação de Simandini a filha de um xeque árabe, a esposa favorita de um príncipe hindu, bem como uma reencarnação de Marie Antoinette. Ela também alegou ter contato com pessoas que vivem em Marte e de ser capaz de falar a língua deles que ela escreveu durante suas sessões, bem como esboços da paisagem ela testemunhou (veja imagem abaixo).

16 de fevereiro de 1896. - A ideia de uma caligrafia especial pertencente ao planeta Marte ocorre pela primeira vez para espanto de Hélène em um semi-transe marciana.


22 de agosto - Hélène pela primeira vez escreve em marciano. Depois de várias visões não-marcianos Mlle. Smith se afasta da janela (chovido duro, eo céu estava muito cinzento), e exclama "Oh, olhe, é todo vermelho! É já tempo de ir para a cama? M. Lemaître, você está aí? Você vê como é vermelho? Vejo Astane, que está lá em que o vermelho; Eu só vejo a cabeça e as extremidades dos dedos; ele não tem robe, e aqui está o outro (Esenale) com ele. Ambos têm algumas cartas nas extremidades dos dedos em um pedaço de papel. Rápido, me dê um pouco de papel! 'A folha em branco eo bolso de caneta são entregues a ela, o que este último ela desdenhosamente lança para baixo. Ela aceita um lápis comum, que ela mantém em sua forma habitual, entre o meio e índice de dedo, em seguida, escreve da esquerda para a direita, as três primeiras linhas de Fig. 21, olhando atentamente para a janela em seu modelo fictício antes de rastreamento de cada letra, e acrescentando algumas notas orais, segundo a qual existem algumas palavras que ela vê escritos em caracteres pretos sobre os três papéis - ou, mais corretamente, em três varinhas brancas , uma espécie de cilindro estreito, um pouco achatada - que Astane, Esenale, e um terceiro personagem cujo nome ela não sabe, mas cuja descrição corresponde com a de Pouze, segure na mão direita.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

À Flor que foi bela

Amor tecido em fios de luz
Eu sou quem o passado esconde
E cujo nome desvenda-se onde
A morte amiga a todos seduz

Eu sou quem ao futuro se nega
E luta para apagar seu nome
Por conta da sede e da fome
Que a vida da morte se apega

Amortecido em ciúmes, sofreres
deixei o sítio de meus quereres
Para amargar a dor dess’alma

Hoje, em tempo outro residente
Busco encontrar novamente
a flor bela que do passado foi alma. 

sábado, 19 de setembro de 2015

Deus escreve certo por linhas tortas e usa as mãos dos deficientes visuais

Eu sempre ouvi dizer que Deus escreve certo por linhas tortas. Isso é nada para ele que pode tudo. Mas o que poucos sabem é que Deus, ao escrever certo por linhas tortas, usa as mãos dos deficientes visuais. Ouvi isso de um amigo cego, fazendo questão de dizer que a sua deficiência tinha compensações. Ele fazia artes com elas.

Por isso, todos somos importantes. Uma pessoa pode até nem dispor da visão dos olhos, mas compete a ela disponibilizar a visão interior que é a administrada pelo divino.

Qual a visão que você tem da vida? É uma visão de esperança? Então, deixe que os olhos da alma se ampliem nas conversas nas quais você possa externar esse sentimento maravilhoso do conhecimento. Fale das virtudes benéficas do céu e que estão dispostas em nosso íntimo. Elas se constituem nos dispositivos do amor, da bondade, da caridade, da compaixão, da fé e de todas esses sentimentos que a gente não encontra nos supermercados do mundo.

Aproveitem os dias de experiência escolar, aqui na Sociedade de Assistência aos Cegos, para colher e recolherem a sementeira do conhecimento, que abre portas magnificas para o mundo. O mundo daqueles que não tendo a visão, aprendem com as mãos o grande significado de ver o mundo através da leitura Braille.

Viver é uma experiência que fortuna nenhuma consegue pagar. Todos nós, pessoas que enxergam ou as com deficiência visual, viemos à essa Escola chamada Terra para compartilhar o ensinamento que nos leva ao progresso.

Vestimos uma farda de carne e osso; somos tutelados, inicialmente, pelos mestres de nossa linhagem consanguínea, que são nossos pais, e vamos como a corrente de um rio em busca do mar.

A vida do ser humano assemelha-se muito a de um rio. Nasce pequeno, numa fonte e vai caminhando com a ajuda de outras águas em busca de cristalizar o sonho do infinito.
Assim, também, é o homem. Desde pequeno se encaminha para o projeto divino da emancipação. Vai reunindo conhecimentos, amizades e se fortalecendo.

Há águas que fertilizam terras, ajudam na produção dos frutos, assim como pessoas que fortalecem outras pessoas. Mas existem as que demoram a percorrer sua caminhada. É quando param num baixio, estancam, viram pântano que nada criam e nada fazem. Não é assim com pessoas preguiçosas, lentas que páram no tempo e no caminho? E chegam atrasar até a vida de outras?

A correnteza, muitas vezes, se depara com barreiras interpondo o seu caminho. São as barragens construídas para auxiliar o homem. Pessoas também encontram dificuldades na vida e se sentem impedidas de continuar sua trajetória por algumas injunções da vida. São as provações.

Nessas ocasiões, a gente sente que tudo dá errado e pede ajuda as céus. Já notaram o que acontece com as águas que foram barradas nos açudes? Elas crescem com a ajuda de outras águas e conseguem superar as barreiras e sangram. Que fantástica palavra para dizer que as águas quando são impedidas de continuar sua caminhada, elas sangram. Asssim como as pessoas em momentos de dor e sofrimento.
Pois que aprendamos com as águas. Elas não se entregam. Elas se fortalecem e pedem ajuda dos céus. E os céus enviam chuvas para que elas consigam um outro milagre: o de ganhar força em busca do oceano.

Sabe a luz de artifício que ilumina nossas casas e nossas ruas? Elas são movidas pela força das águas, lá na cachoeira de Paulo Afonso. São águas represadas que, livres, elas alimentam as usinas e nos dão a claridade. Olha só que outra imagem fantástica da Natureza: são nas quedas que as águas ganham força e nos dão a Luz.

Assim como as águas, devemos ser corajosos na batalha da vida. Crentes de que somos auxiliados pelo Poder superior. Pelas amizades. Pela crença de que tudo é possível ser superado. Se tivermos a fé do tamanho de um grãozinho de mostarda, afastaremos montanhas de probemas que nos surgem.

Mas assim como a Natureza das águas, também nós muitas vezes somos violentos, descuidados. Algumas vezes, as águas arrasam terras, destroem plantações; inundam cidades.
A nossa natureza humana, aquela que ainda não desenvolveu os recursos da paciência e da paz, também nos leva muitas vezes a cometer atos equivocados. Agimos de forma violenta contra nossos semelhantes. Por culpa de nossa ignorância ao nosso verdadeiro objetivo na vida, matamos e morremos cedo porque não nutrimos os sentimentos da paz.

É preciso reorientar o curso de nossa caminhada. Evitar a raiva. Descontruir o ciúme. Eliminar o egoísmo. Jogar fora os germes do ódio e da selvageria que ainda confundem o homem nos dias modernos, em meio a toda essa aparelhagem tecnológica fantástica que nos ajuda, mas que contraditoriamente nos remete a idade da Pedra.


Deus escreve certos por linhas tortas. E eu repito a frase de um deficiente visual, ao reconhecer que era preciso aprender a usar bem as mãos porque Deus escreve pelas mãos dos cegos. Jesus disse uma vez: “vós sois deuses. Sede perfeitos, como perfeito é vosso Pai nos céus”. Que desafio ele nos deu. Que possamos cumpri-lo.  

domingo, 23 de agosto de 2015

CANÇÃO DA FORTUNA DESCONHECIDA


Eu, que de riquezas não sabia,
acabei de ver quão rico sou
ter mãos que trabalham noite e dia
E que pregam gestos de amor .
Ter braços que abraçam meus amigos
Olhos que divisam a Natureza
Boca pra falar e entoar cantigas
Ouvidos de ouvir tanta beleza.
Pernas que me levam por caminhos
Onde os meus sentidos vão se dar
Ter um coração com esse carinho
pra alma que eu mais quero encontrar
Tão grandiosa essa minha fortuna
Que em pobreza, nem posso pensar
Sou a mais rica das criaturas
Que essa escola Terra viu passar.

(Nonato Albuquerque)

domingo, 28 de junho de 2015

De semente das sombras, às forças de luz

Nonato Albuquerque
Antes, ator de infortúnios e de conquistas,
menti, matei, saqueei; por ideais profanos.
Hoje, em meio a seres de mentes altruístas,
apodreço entre os humildes hansenianos.
Antes, a lâmina do horror decapitava tiranos
ante o tropel de bárbaros quatrocentistas.
Hoje, ressurecto à vida, após malgrados anos,
somatizamos dores de passados egoístas.
As faixas de carne que encobrem o que fomos
são elos da misericórdia divina e de mudança
de semente das sombras em forças de luz.
O hino de amor que, na Terra, compomos
É a certeza dessa consoladora esperança
De que não nos abandona, o amor de Jesus
(Inspirado em Jésus Gonçalves)

Anjo: menino ou menina?

Nonato Albuquerque

Nicó, filho da dona Dita do Vale, que nasceu no sopé da serra das Flores, revelou à mãe ter um sonho. De ser anjo. Anjo na festa da coroação da padroeira. Padre Zito, ao ouvir a mãe falar aquilo, entupigaitou: ‘Tá querendo que os céus desabem sobre nós, mulher?”, dizia, mandando ela calar a matraca, rezar pelo filho que, provavelmente, andava com ideias de jerico. “Leia Romanos, 1;27-28” falava, imaginando que o garoto andasse jogando água fora da bacia. 

Dona Dita não entregava os pontos. Falava ser coisa de criança, que podia facilitar o sonho do menino. Mas o pároco não dava trela. ‘Anjo na coroação da Virgem! É coisa de menina’. 

Nicó ao saber que não podia ser anjo, desaguou todo o choro reprimido e prometeu nunca mais botar os pés na igreja. Preocupada, a mãe tentou evitar esse ganho pro ateísmo, dizendo que, na reunião de domingo, iria pedir às mães cristãs e às filhas de Maria, um abaixo-assinado em favor dessa causa, a fim de que padre Zito desse o dito por não dito.

Pois as piedosas mães cristãs e as filhas de Maria, ao saberem das intenções de Nicó, correram foi pra igreja, juntaram-se em prece, pedindo a Deus que protegesse esse menino que, de pequeno, já tinha pensamentos - como diríamos? - profanos. “Um menino na coroação de Maria, que desplante!”, dizia dona Emengarda, benzendo-se toda. 

Seu Brito, o pai de Nicó, não pensava assim. Sabia que o filho não tinha eivos de baitolagem. Foi ao padre, pediu compreensão. Que a proibição poderia causar traumas no filho pro resto da vida. O padre nem deu ouvidos. “Anjo é coisa de menina. Anjo menino é pecado. Os céus podem desabar sobre nós”. “Pois, seu vigário, me diga só uma coisinha: prove que um menino não pode ser anjo. Se anjo é coisa de menina, por que nas gravuras sagradas, nunca se viu um anjo fêmea. Só vemos aqueles ‘minino’ com os ‘pintim’ de fora. Nunca vi uma menina”. E foi mais longe: ameaçou cortar as doações do seu armazém para a festa da padroeira. 

Ao ouvir isso, Padre Zito arregalou os olhos, engasgou-se na hora de responder e teve um acesso de tosse. Mãos prostradas, fez aquele velho ar de quem prescruta o céu em busca de resposta e pediu tempo para pensar. 

... 

Ontem, na festa da padroeira, adivinhe quem coroou a imagem de Nossa Senhora? 

Ni-có! Sim, Nicó. 

E os céus nem desabaram sobre a cidade.

sábado, 6 de junho de 2015

À LORCA, A QUEM AMO 
Nonato Albuquerque 

As devotas mulheres de luto 
pareciam orquestrar uma sinfonia de silêncio, por onde se filtravam, na espessa luz do dia, raios de sol por entre as crinas dos cavalos. 

No obituário desse campo,

lembranças. Uma expressão vazia de tristeza, por entre os véus negros que anulavam aos olhos dos passantes, a verdadeira face de quem chora. 

Um mocho pia numa tumba próxima.

Um grito escapa de uma buzina atordoada. Badaladas do sino encomendam um anjo 
que é transportado num caixão de azul celeste. 

Almas destemperadas de vida alguma sonumbáticas formas de revelar o passado 

Que eu vivi em minha Acopiara, muito antes 
de sair para o mundo e só viver saudades

Dose pra cavalo

Toda vida que ele tomava choque
na clínica, para recompor a calma,
tinha desejos de saborear nhoque 

Que agia como brilho em sua alma.

Toda vez que lhe dopavam a mente
e que ele vagava como zumbi na rua,
a molecada do bairro, inocentemente,
dizia que ele estava virado pra Lua

Um dia, erraram a dose. E lhe deram
uma mais forte em termos de voltagem.
E ele se foi... não conseguiram reanimá-lo.

A família culpou a equipe do hospital.
Entrou com ação contra enfermeiros,
de quem diziam terem dado dose pra cavalo 

domingo, 31 de maio de 2015

OS ADMIRADORES DO CRISTO


quinta-feira, 21 de maio de 2015

Quem foi Macarrão?


Um sonho. Ou teria sido um desdobramento? Qualquer que tenha sido a ação, ela foi de extrema importância para quem, como eu, avalia estudos espirituais fora do corpo. Estava em um local íngreme e, de repente, mergulhava no que parecia ser um grande rio. Ia até o que presumia ser o fundo. Ali, alguém estava desacordado e fui sem muito esforço, orientando-o a ir à tona. O nome que eu falava (dentro da água) era ''Macarrão".

"Sobe Macarrão! Tá na hora. Sobe!"

E ao atingir a superfície, depois de uma longa respiração para recompor-se, ele abre os olhos, fixa o alto e depara-se com o que eu considero fosse um crucifixo. Apenas o final do objeto aparecia envolto numa espessa névoa - como uma nuvem. Nele, os pés do Cristo.

- O que é isso? indagou-me aquele que eu chamava de Macarrão.

"É o teu 'Deus" que vem salvar a todos.

Acordei do sonho e, durante um bom tempo, fiquei imaginando essa 'aventura'.

Mais tarde, por volta do meio dia e meia, contei a experiência aos amigos do estúdio de tv, onde atuo. E resolvi consultar o Google. Escrevei: 'Macarrão afogado'. O resultado é impressionante. 

sábado, 16 de maio de 2015

POETAR, ANTES QUE EU MORRA


Ouvi estórias de pescadores,
Cantei odes a poetas vivos,
Lutei contra heróis de DC comics,
E dancei feito besta fera
ao ouvir estrelas de Bilac.

Eu sou quem sou de fato,
Não tenho rima, nem métrica,
Minha veia é só poética
De onde não jorra mais sangue.

Ouvi cantares de mudos,
Fui guia de tantos cegos,
Que hoje todos apegos
Que eu tenho, desapego.

Andei po cantos, parado,
Viajei à Lua, lunático,
Fui hóspede de Chopin.
Quando George era sã.

Militei com Brancaleone,
Mas ele apagou meu nome.
Sou alvo, sou quem atira;
Sou tira, prisioneiro.

Do alto desse penhasco
Eu não avisto mais nada.
Por isso, vou dormir o sono
Dos anjos já esquecidos.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Um abraço pra ti, Fortaleza



Nada de novo é tão novo
Quanto verdades antigas
Como dizer que é do povo
A voz de Deus que ele abriga.

Por isso faço dos cantos
O encanto de teu mistério
Cidade minha de encantos
Que me faz sair do sério.

Nesse louvor que hoje rezo
Do verso meu que te faço
Tenho só uma certeza

És o amor que eu mais prezo
Por isso dou-te um abraço
Maior do que és Fortaleza.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

SIMÃO, O QUE CARREGOU A CRUZ DO CRISTO



Eu estive no morro da Caveira.
Fui um dos apedrejadores do condenado.
Eu o via andar pelas ruas da Samaria,
ora cruzando as margens do Tiberíades,
ora em direção ao reduto dos galileus,
quase sempre sob a escolta de alguns homens,
que pareciam lhes ser útil,
mas que na hora nona sumiram da vista dele.

Como ele sofreu! 
Eu o acompanhei nas vielas tortuosas da Jerusalém, 
desde a noite de seu aprisionamento 
no monte ornado por oliveiras, 
próximo ao jardim do Getsemani.

Eu vi quando a soldadesca o fez prisioneiro, 
atendendo a ordens do sacerdote Kaifas,
o que se vendera aos invasores romanos
à custa de nenhuma serventia.
Em momento algum ele reagiu à prisão,
ainda que um dos três homens que o acompanhavam chegasse a puxar a espada
e ferir com um golpe a orelha de um pretoriano.

Posso até dizer que busquei ouvir aquele moço,
de estatura considerável e de beleza inaudita,
de tez da cor do fruto da amendoeira madura,
cabelos repartidos à maneira nazarena,
e que tinha no olhar uma ardência 
de quem enxergava o infinito das coisas.
Fitá-lo de frente, era sentir as nuances 
de sua alma falando ainda que em doce silêncio.

Quantas vezes sai do campo, 
para ouvir seus discursos revolucionários,
conclamando a todos a ignorar o opressor
e a pagar o devido tributo à Roma dos césares.
Como entender alguém dizer que viera anunciar 
um reino de libertação do povo da Judéia,
se a sua corte era formada por um punhado de miseráveis que mal tinham onde curvar a cabeça.

Cheguei até a me comover, durante a caminhada,
vê-lo tropeçar ao local de sua pena de morte.
Em seu corpo, dava para se ver claramente,
as marcas do látego de impetuosas mãos romanas, 
cravadas em suas costas. Marcas de maldade!
O que fizera esse indivíduo para merecer
o castigo de tiras de couro, sobre as quais fixadas estavam bolinhas de chumbo e pequenos ossos?!

Eu vi a turba ignara acompanhar o cortejo,
aos gritos de vingança e ódio, como se ali estivesse 
o mais condenado dos condenados.
Uns lançavam pedras e objetos contra ele.
Outros, o maldiziam, cuspindo em sua direção.
Uma mulher chorosa, acercou-se dele,
estendeu os braços em atitude de piedade. 
Disseram alguns presentes, tratar-se da mãe dele.

Eu estive tão próximo a esse homem,
que um dos soldados que o atormentavam,
ao vê-lo fraquejar, caído, ensanguentado
e sem forças para continuar, puxou-me pelo braço 
e obrigou-me a carregar a haste do seu martírio.

Em casa de Joana de Cusa, quantas vezes, 
tive oportunidade de ouvi-lo falar 
sobre um mundo melhor a quantos O seguiam 
e de promessas de libertação do povo.
Vi ensinar lições de bonomia, como nunca antes alguém ousou dizer – e o mais incrível,
esse condenado viveu a prática de seus ensinos
com a intensidade de quem previa ser curta
a transitoriedade de seu tempo entre os homens.

Meus ouvidos estiveram tão próximos do mártir, 
que ainda hoje tenho a impressão de ouvir
as marteladas dos romanos cravando os pregos 
nas mãos e nos pés do quase moribundo.

Quando na nona hora, daquela tarde angustiante,
o sol desapareceu antes do fim do dia
e uma tormenta varreu todo o lugar
afastando os curiosos dos pés do crucificado,
eu vi aquela que seria a mãe acercar-se do filho
e notei o esforço dele em querer dizer alguma coisa 
à senhora aflita que não consegui ouvir.
Ela abraçou os pés ensanguentados do filho,
em dolorosa atitude e um jovem moço,
que estava ao seu lado, conseguiu arrastá-la dali.

Como eu já disse, eu estive no morro da caveira.
E vi quando o homem chamado Jesus,
pendeu a cabeça para o lado num suspiro final. 
Tive vontade de chorar 
diante da enorme solidão daquele homem,
- ali, largado, abandonado, à sua triste sorte -,
mas meus filhos Alexandre e Rufus, 
intercederam que já era tarde 
e precisávamos fazer a viagem de volta à Cirene.



Eu estive no calvário e carreguei a cruz do Cristo.

domingo, 22 de março de 2015

DO AMOR QUE HOJE TEMOS

Eu te quero mais ainda do que antes
Que pensasses que na vida existia
alguém que vivesse a todo instante
celebrando teu amor com essa alegria.

Tu me amas, muito embora tão distante,
mas tão perto dessa crença desse dia.
Te confio a minha alma suplicante
a ser tua em meio à glória ou agonia

No passado, quando em dias não serenos,
fomos, tu e eu, inimigos tão vorazes;
quantas chances de viver o bem perdemos.

Mas longe das diatribes e dos pequenos
impulsos da alma, somos mais capazes
de reconhecer o amor que hoje temos.

sábado, 21 de março de 2015

Andorinhas do mar em folga na beira da praia



Um dia, numa praia deserta, descansava, quando uma nuvem compacta de aves materializou-se no lugar onde estava, proveniente do oceano para o continente. 
 Eram andorinhas do mar. Milhares delas. Como se todas aquelas aves tivessem resolvido voar até ali. 
 Muitas elegeram a areia. A maioria, porém, mergulhava nas águas intempestivamente, para em seguida virem pousar na orla, batendo as asas, como se tirassem delas um enorme peso. 
 A praia ficou pontilhada delas, como se uma manta escura cobrisse todo o chão em volta. 
 O barulho das ondas perdia para o piar das aves. 
 Fiquei inerte. Inebriado pela cena. Silenciosamente quieto. Admirando tudo aquilo.
 De onde teriam vindo essa multidão de pequenas e barulhentas andorinhas, indagava-me.
 Qual era o destino delas.
 Eu diria que elas vieram do nada. Como se uma fenda ou um portal tivesse sido aberto de outra dimensão e, elas, se materializassem de repente. Por uns poucos minutos, isso foi visível. 
 Em dado momento, o piar mais forte de algumas delas parecia despertar o bando, que levantou voo inesperadamente. Era como se os guias alertassem para o fim do descanso. E o retorno à viagem.  A multidão de andorinhas levantou voo. Procuraram se compactar. Sobrevoaram duas vezes, a minha cabeça, com pios estridentes, como para saudar-me e, então, foram sumindo aos poucos, oceano adentro. 
  Meus olhos comeram a paisagem esfomeadamente. E no horizonte, a nuvem negra delas se tornara compacta e desapareceria. 

 Um dia, numa praia qualquer, gostaria de ver isso repetido. O real que eu vivi e que para mim parecia sonho, por enquanto, continua um sonho...

Resposta

Quem é você, que passa ao largo da vida
Como se fosse ela inútil?
Vive porque, afinal de contas, está na lida
Mas considera tudo fútil.

Quem é você que, por mais que se consulte,
Adora dizer que anda abatida
Sem avaliar o dom que faz tão útil
O viver, lição apreendida.

Se você tivesse chances de recordar-se
O que fez antes de nascer
Iria saber que pediu pra ser dessa maneira

E ao invés de reclamar e acomodar-se
Iria o quanto antes correr
Ao invés de falar da vida, como asneira. 

sábado, 7 de março de 2015

O oboé


Quando outra vez eu for menino,
E vida nova tiver, meu sentimento
É de traçar outra rota do destino
E aprender a tocar um instrumento

Que seja violão, piano, até um sino
Se for oboé, maior contentamento
Partilharei meu som em concertino
para marcar esse meu novo momento.

Minha alma é musicalmente rica e bela
Quer ressurgir em uma época singela
que seja em corpo de homem ou de mulher

O que mais firmemente, desejo dela
É que seja pontuada de uma parcela
De música, tocada ao som de um oboé.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Sobre a morte e o cavalo


domingo, 8 de fevereiro de 2015

UM BANGALÔ NAS NUVENS: VIDAS TRANSITÓRIAS

UM BANGALÔ NAS NUVENS: VIDAS TRANSITÓRIAS

VIDAS TRANSITÓRIAS



Um dia, quando eu deixar a terrena presença
Não alimente sua dor com ais de sofrimento,
Pois vivo estarei, assim como neste momento
Eu sou. Não limite outra que não essa crença.

Todos somos passageiros com alguma licença
De elevar nessa vida corpórea um sentimento:
Há quem o chame de amor, esse doce alimento
Há quem o diga ser paz essa terna querença.

Chorar porquê se, logo logo, todos estaremos
Juntos na dimensão da Luz que nos aguarda
para cumprir o destino das vidas transitórias

Agradecer sim, é o que todos nós devemos
Na hora de alcançar essa outra mansarda
Onde nos reuniremos para somar as vitórias.

® Nonato Albuquerque


sábado, 7 de fevereiro de 2015

O LADO B DA VIDA


Saí, porque estava em tempo, 
andava tonto
Pensar que esperava um século, não deu...
Voltei. 
Tomei um tanto. Vomitei outro.
Falei muito géri-géri
“Pra rever os amigos que um dia, eu deixei”

Atrás de mim, 
rastros de poeira nas estradas
‘Por onde quer que eu vá, sei que vou sozinho”
Pra onde vai esse povo 
que parece um zumbi?
Eu hein? 
Dá uma olhada se eu morri direito.

No lado B da vida, 
é tudo uma mesma coisa
A gente ama. Bebe. Sofre... 
e, dizem, até se morre
Pra conseguir um crachá de volta ao lado A

Nascer de novo, por aí, segundo Buda
É preciso não ser bundão
e ter, pelo menos, alguns bônus...
Eu como quem não quer querendo, 
acredito!