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domingo, 28 de julho de 2019

Esperançosa promessa de libertação

Na enternecedora paisagem da Galileia, quando o sol se abrigava nos montes junto ao Mar Morto, uma multidão acorria à chegada de um homem dos seus 30 e poucos anos, que era reconhecido entre eles como a esperançosa promessa de Israel para a libertação do jugo de Roma. 

Não era um rebelde na concepção estrita da palavra, nem tinha ele o perfil dos perturbadores da ordem que, vez em quando, sacudiam a tranquilidade da soldadesca pretoriana, desobedecendo as ordem para não se agruparem em discussões políticas. 

De sua voz cadente, jorravam palavras de um profundo ensinamento profético que, aos ouvidos atentos, sugeriam o prenúncio de um tempo melhor para o povo que se via escravo do invasor romano.  

Enquanto suave brisa percorria as frondes das tamareiras em flor, amenizando o que restou do escaldante calor que a tarde deixara sufocar, o povo que seguia a autoridade do templo de Jerusalém ao invés do templo da Samaria, tranquilizava-se ouvindo as lições daquele que diziam ser o filho de um carpinteiro. 

Com sua tez amorenada, o homem juntara-se com uma dezena de indivíduos que sempre o acompanhavam, ao sopé do monte, enquanto a multidão curiosa parecia ansiar para sentir dos seus lábios o hálito perfumado das lições daquele dia.

Foi quando ele falou desse mesmo povo de identidade judia, que tinha um deus único por religioso respeito, mas que ainda fugia aos cânones da prática do sagrado livro. Lia-se Moisés, mas no aprendizado a teoria se exercitava mais pelo ímpeto de cada um ao invés de procederem pelo sentido expresso da mosaica lei. 

Depois de falar das venturas que aguardavam as almas encanecidas pelo roteiro interminável de existências, lembrou o direcionamento de cada uma na paisagem terrena. Dizia estar de passagem pela Terra, atendendo às sugestões de seu Pai, um Deus único de onde se originaram as doze tribos de Israel. 

Aos humildes e mansos de sentimentos teceu considerações que os apontavam como herdeiros do futuro do Planeta, quando uma Nova Era de justiça e bondade se fizer presente entre os povos das nações. 

Consolou as vítimas da violência, do ódio e das tormentas do espírito, injetando-lhes no íntimo de suas almas, a certeza de que todos serão aquinhoados das bençãos do alto. E conclamou a que os ímpios se sujeitassem à brandura para que nos dias vindouros pudessem celebrar as primícias do reino maior. 

Foi, porém, ao sentir entre os presentes, noções claras de divisões sectárias em relação ao trato com os de religião diferente, que Ele buscou acentuar ainda mais a sua palavra. Concitou a todos que buscassem a convivência harmoniosa para evitar as consequências que a lei lhes prometia.  

E narrou-lhes a história do samaritano que socorrera um pobre desvalido, vítima da insidiosa violência reinante e que fora deixado ao largo, diante da passagem de um religioso e de um homem que se dizia do bem. 

Os samaritanos, é bom que se diga, eram criaturas mal vistas entre a comunidade judia da Galileia, por não seguirem o ensino do templo dos galileus. Entre eles, disputas ávidas da paixão fanatizante dominavam seus mais íntimos sentimentos. Poucos valorizavam seus contendores. Uma lição de prestimosa ajuda, feita por um daqueles a quem a maioria os citavam como gente de baixa estirpe, era por demais incisiva. 

Já era tarde quando a multidão se retirou da base do monte Hermon, em meio a comentários sobre o que lhes pregara o mestre. Alguns não admitiam regrar as contendas com os da tribo da Samaria, não só por motivações de religioso cunho, mas por discutíveis querelas políticas que já atravessavam anos. 

Mas no íntimo de cada um, o homem conseguira inocular uma semente de luz capaz de renovar o espírito belicoso daquele povo galileu.