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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

CEARÁ ERA SAARA



CEARÁ ERA SAARA
No dia que decidiram que eu teria que nascer na Terra, o anjo Xico, meu guia de guarda, me estendeu um grande mapa e disse:

- Onde o senhor quer nascer?
Sem pestanejar, respondi:
- Numa terra do Oriente, de clima tórrido, sem chuva. Chão esturricado, mas que tem uma riqueza debaixo dele, que será o futuro do Planeta: óleo de pedra.
Xico, ao que parece, não tinha lá muita ciência das coisas e foi preciso explicá-lo que era petróleo, o óleo do qual eu falava
- Quero nascer aqui - disse apontando no mapa - e ser um dos herdeiros de todo o califado, pra viver uma vida de paxá: enriquecer e viver de ar (de brisa, devia ter dito pra ser mais compreensível).
Pra evitar alguma dúvida, peguei o mapa, botei o dedo indicador na região onde pretendia nascer. No Sahara.
E como ele tivera uma vida pretérita num reino croata, indagou-me:
- Sahará? E eu, displicente confirmei.
Pois num é que o desgramado do anjo trocou as bolas. Mandou-me pruma terra seca, que nem água tem pro gasto. Quando tomei juízo das coisas e que fui olhar direito, vi que o anjo Xico, meu guia, ao invés de Sahara me mandou com armas e bagagens pro Ceará. E só assim pude ver que ele trocou a acentuação tônica da palavra para a última sílaba do Sahara. E ficou Saará.
Mesmo que hoje ame demais essa terra, mas não esqueci. Ando fulo da vida com o anjo que me jogou onde ‘óleo de pedra’ tem. Mas refinado. Nos postos de gasolina. E caro pra caramba! E num herdei nem uma bombinha. E pra num dizer que ele errou de todo, vivo de ar. No ar. Nos meios de comunicação.
Tem nada não! Descubro assim que num é só humano que erra. Anjo, também. Só tenho pena sim, é de quem pediu a ele pra nascer em Boston. Ou Chicago.
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