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sábado, 16 de maio de 2020

Uma Fortaleza saudade



UMA FORTALEZA SAUDADE

 Por Nonato Albuquerque 

 20 de novembro de 2019

(in memoriam à Jáder de Carvalho)
o olhar de menino do interior, 
que a cidade alcovitou um dia 
adormeceu uma paisagem 
de terra, água, amor e muito mar.
No porto onde naus descansam,
meu olhar desejou ser um navio 
e singrar os sete mares do mundo 
sem choro, medo e sem adeuses. 
Não ia dizer nada a minha mãe,
que desligado o meu umbigo,
mantém aprisionado meu coração 
com receio desse meu outro destino.
Nas areias do Mucuripe, flagro 
ainda o menino já descalço 
à sombra de um carvalho nome 
poetando versos, vozes e (en)cantos. 
Um dia, eu navio de mim mesmo, 
velejei no mar da Vida a outro porto 
onde vim jornalistar esse outro lado 
que é o lado de lá, do lado mar. 
O céu que os padres me vendiam 
é lugar de trabalho, sem descanso,,
sem necessidades de indulgência, 
nem petitório aos protetores santos.
Náufrago dessa enseada de luz 
vejo surpreso, navios já cansados 
atracarem neste porto, sem aviso
aos lenços em aceno de saudades. 
Que a terra bárbara onde eu vivi 
um tempo bom, bom tempo tenha;
e que o farol do mediúnico estafeta
brilhe com essa fortaleza saudade.