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sábado, 20 de setembro de 2014

A lenda do santo demônio

A lenda do santo demonio 
Nonato Albuquerque
  

Já disseram que aquilo de bêbado num tem dono, mas nem por isso os papudinhos largam a garrafa. Nem com a gota da mulesta eles param de beber. Largar do vicio, ih, é difícil! Quando isso acontece, dizem os mais encalacrados, ex-pinguço deixa de BB e se matricula no AA. "Puro retrocesso escolar", argumentam com uma ponta de sarcasmo.

Pouca gente, porém, conhece a origem do alcoolismo entre as pessoas e o pacto firmado pelo diabo com o bicho-homem ainda nos tempos da criação do mundo.


Conta-se que Deus queria saber como andava sua obra. E anunciou uma festa no céu para todos os seres vivos. Todos os bichos podiam entrar, menos o anjo Lúcifer que andara aprontando das suas e fora banido do condomínio celestial. Quando soube dessa proibição, o diabo ficou com o cão nos couros. Jurou que iria à festa de qualquer maneira e se vingaria de Deus atraindo para as suas hostes, a melhor das suas criaturas. Pegou o "cãolendário´, informou-se sobre o dia, hora e lugar e, deu uma infernal gargalhada, ao saber que se tratava de uma festa à fantasia.


- Festa à fantasia! Uau!" Tá como o diabo gosta.


Sem que precisasse esquentar muito os miolos, teve uma idéia... como díriamos? Diabólica! Pensou: qual é a maneira mais fácil e sensata de se entrar no céu? É o individuo se tornar um santo. Dito e feito. Lúcifer vestiu uma mortalha branca, botou uma auréola de arame na cabeça, calçou uns ´cãochutes´ novos, encenou um ar de santidade e se mandou.


Passou direitinho por São Pedro, que estava no maior ronco na portaria e nem notou a entrada do demônio.


É bom dizer que das profundezas, o cão - ou melhor, o santo - conduzia um frasco com um pouco de "água ardente" e uma tocha acêsa na ponta com uma brasa retirada dos infernos.


Lá, ele ofereceu isso a todos os convivas. Nenhum bicho aceitou. O passarinho, previdente, se negou a beber daquela água. A caipora também desculpou-se, embora tivesse adorado tragar a essência da chama acêsa. Interessado em proclamar sua vingança, o diabo deu de cara com o bicho-homem, que na festa se vangloriava ser a mais inteligente das criaturas, e que aceitou beber todo aquele vaporoso líquido. Bebeu e bebeu e bebeu até cair de quatro, enquanto Lúcifer aproveitava-se para firmar com ele um pacto demoniaco.

Dali em diante, toda vez que alguém da sua linha de sucessão provasse da água ardente trazida por ele dos quintos, bastava evocá-lo com um pequeno e simples gesto que ele, prontamente, atenderia a qualquer convocação. 

Dizem que é por isso que, até hoje, em qualquer botequim de beira de rua, tem sempre alguém derramando no pé do balcão a primeira dose dirigida ao santo. Que na verdade apenas se passara por ele.