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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

2023: o resto vem por acréstimo

 















O RESTO VEM POR ACRÉSCIMO
Nonato Albuquerque

Falta só uma porteira, um dia
pra gente entrar no ano novo,
do lado de lá, há de tudo:
céu com nuvens de chover,
um arco de cores no ar,
onde possa estar um pote de ouro
contendo, também, as virtudes
que mais alguém deseja
que o ano novo lhe traga.
Um pouco (muito) de tudo
o que na vida é prazer.
um muito pouco de nada
que, às vezes, nos faz sofrer.
Só quero que, aberta a porteira,



o chão sagrado desse ano seguinte
me traga saúde, paz e amor.
O resto vem por acréscimo...

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

INCELENÇA AO SENHOR DOS ASTROS

 

Iluminado Senhor dos astros,

a quem eu ouso assim falar

não esqueço nunca que em nossos rastros

a luz do amor sempre há de estar  

 

Acende em nós, tua verdade

Que ensina a sina do céu chegar

Nosso ideal felicidade

Que o coração deixa brotar.

 

 se, porventura, ganhe eu mais anos

nunca se perca esse pensar

de serem teus todos meus planos

que essa incelença venha cantar  

 

e que o amor teu mais sublime

possa em teu chão sagrado estar

e as venturanças do bem domine

toda colheita em teu pomar.   

domingo, 25 de dezembro de 2022

"SÊO" ESPADA É ESPADA

 o vizinho, atarantado, sempre me troca o nome 

e em cada vez que fala me dá outra identidade

tento corrigi-lo, mas ele rapidamente some 

desculpando-se ser isso uma "coisa da idade". 


Já fui chamado de Alberto, Machado e tome 

João, Pedro, Nirvando, Marcos e até Andrade

mas o mais terrível foi ouvir da boca do 'ome"

me chamar de Laurinda, perdi a racionalidade. 


O senhor parece ser louco, gritei enraivecido.

me trocando o nome e agora até o sexo 

eu sou espada, e não lhe disse mais nada. 


Ele pediu desculpas e se disse convencido 

de que não erraria mais com nomes sem nexo 

quando me vê agora, "como vai seu Espada".

sábado, 24 de dezembro de 2022

A VISITA DO MESTRE

O coração luminoso do exemplar guia dos homens, sempre que é dezembro, potencializa-se ainda mais seu fulgurante brilho. E ele, dos altiplanos celestiais, resolve retornar à dimensão física do planeta para testar como a humanidade trata hoje em dia seus ensinamentos.

Nos lares onde a fartura é expressiva e dominante, árvores recheadas de presentes; vozes em animadas conversas - a maioria dando margem a lembrança de Noel, o prestimoso velhinho que ganhara os altares dos corações humanos, com exemplar significado.    

Mesmo nos lugares onde se celebra o seu advento, missionários de denominações diversas roteirizam o passado histórico do menino que, um dia, dividiu o calendário terreno. Nas preces ao alto, buscam seu nome em petitórias rogativas.    

O exemplo do amor, empregado por ele no exercício de sua primorosa pedagogia, ganha da maioria dos homens apenas o verniz teórico, enquanto a prática sempre se dissolve nas questiúnculas e refregas nas quais a fraternidade, simplesmente, se dilacera.

Quando é hora de voltar aos páramos celestes costuma derramar bênçãos de luzes sobre o Planeta, e por conseguinte nos corações e mentes daqueles que convivem a transição para um patamar mais evoluído, dependência única do estágio de prática do bem que deve ser a missão de cada ser identificado com os seus ensinos. 

Por isso, a visita do mestre reanima nossa energia.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

O MÉDICO QUE MORAVA NO ANDAR DE CIMA


Quero contar a história de um médico chamado Sorenson, que morava em uma pequena cidade. Era um bom médico, mas as pessoas ricas não gostavam dele porque ele lhes contava a verdade com muita frequência sobre suas doenças imaginárias. As coisas ficaram ruins para o Dr. Sorenson, e ele atravessou os trilhos para a parte pobre da cidade, onde as pessoas precisavam dele mas não tinham dinheiro para pagar uma consulta. .

Ele trabalhava para eles, de qualquer maneira. Eles lhe davam um litro de leite, quando ele curava uma dor de garganta, ou um pão quando curava uma perna quebrada.

Dr. Sorenson não podia pagar um escritório regular. Ele praticava no quarto em que morava, no andar de cima de um estábulo. Na entrada ele colocou uma pequena placa simples que dizia: "DR. SORENSON – NO ANDAR DE CIMA".

 Bem, até os médicos ficam doentes. E depois de trabalhar anos com essas pobres pessoas, o Dr. Sorenson ficou doente e morreu, e todas aquelas pessoas queriam erguer um monumento de mármore, mas simplesmente não podiam pagar. Então eles pegaram a placa do estábulo e a colocaram sobre o túmulo do médico. Lá estava a placa: "DR. SORENSON-NO ANDAR DE CIMA’

Do filme "Ambiciosa" (1947)

sábado, 10 de dezembro de 2022

DICOTÔMICA TORTURA

 

O rio, ao confundir-se com o imenso mar,

questionou consigo já não ser mais rio.

- É esse o destino que sempre nos levará

a tal da correnteza nesse desafio?

 

O mar rugiu mais forte com seu ar bravio

“Tudo o que era antes nunca mais será”.

A tese panteísta beirou o seu vazio 

embora noutras águas viesse ele dar.

 

E em meio à dicotômica tortura

O rio avaliou ser isso lídima traição

que o rei Netuno impôs à toda criatura


que não rezasse em sua cartilha não.

O rio então desejou renascer rio  

Pra estar perene em qualquer estação.

DICOTÔMICA TORTURA


 



sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

A TRAVE DO INFERNO


 



quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

AMOR APAGA PRECONCEITO

 Cresci regado a aconchego

De pai, mãe e de avós.

Nos ensinando que nego

Era diferente de nós.

 

Um dia eu peguei apego

A uma menina cuja voz

Me deixou surdo e cego

de amor assim tão veloz


Contrariando minha linha

casei c´um esse amor tamãe

Que o tempo mostrou o efeito.  

 

Meu pai adora a negrinha

sua neta, e diz pra minha mãe

amor apaga preconceito.

DANÇA SOBRE CADÁVERES


DANÇA SOBRE CADÁVERES  

Nonato Albuquerque

 

Sobre cadáveres pútridos de malgrados mitos

dançam-se loas pelo que já foi transposto;

rogam-se aos deuses tempos mais benditos

às forças novas que assumirão seu posto.

 

Almas contaminadas de ódios, esses proscritos

são de eras mentais geradas em um agosto

Em meio a traições que marcaram conflitos

E retemperados voltaram, como por encosto.

 

Quem para usufruir desse passado, a sua pauta

e revelar dos arquivos da grande memória

a identidade que os céus guardam segredos,

 

seria da inteligência humana o novo nauta

a revelar o perfil dos que mancharam a História

e hoje voltam ao limbo para carpir degredos.

 

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O ANJO ANDRÓGINO DE SEU TIBÚRCIO

O ANJO ANDRÓGINO DE SEU TIBÚRCIO

Nonato Albuquerque

 

Pense num sujeito grosso! Seu Tibúrcio. Pai de Nozim da padaria. Num tempo onde mais se combate homofobia e outros preconceitos, seu Tibúrcio se gabava de encarar a figura de “machão” do Lagedo – o nome do lugar onde nascera, crescera e vivera dominado por um surto constante de raiva e ódio a todo tipo de integrantes de LGBTQ+.

Desde mocinho, costumava dizer ter sido o maior rabo de saia do lugar. Levava no papo quem caísse na sua lábia. E garantia ter pego 99% das mulheres do lugar. “Só não cheguei aos 100, para livrar minha mãe”.

De todas, só Excelsa cedeu às suas cantadas e acabou caindo “nas malhas da Justiça”, pois grávida antes do casório, o pai dela obrigou Tibúrcio a casar-se frente a um juiz de paz ou teria que escolher entre os três Cs da sua lei: cemitério, cova, cadeia. Era o delegado do lugar.

Em 45 anos de casados, seu Tibúrcio e dona Excelsa só tiveram um filho, o Nozim, a quem o pai obrigara a votar no Mito, fazer campanha contra o aborto, contra a implantação do comunismo no Brasil e “a invasão do movimento LGTBQ+”, regra que ele próprio aditara. O fracasso de Bolsonaro no 2º turno, o levou às manifestações em frente ao Tiro de Guerra de Lagedo, onde uma enxurrada o fez desmaiar entre os “patridiotas”.

Levaram-no a um hospital. Diagnóstico: tuberculose, sendo induzido ao coma. Quando despertou estava despido, deitado em outra cama, onde uma mulher anunciara que ia fazer a maquiagem dele.

- Maquiage é a porra! Eu sou espada – gritou, mas ninguém parece ter ouvido. Depois ela foi até a porta, chamou alguém e lhe aparece Nozim, o seu filho.

- E aí, gostou do trabalho que fizemos nele?

- Está ótimo – disse acrescentando: “Ele só num ia gostar desse batom que puseram nele”.

- Batom!!! Meu filho, me leve pra casa. Estão me querendo parecer um viado...

A voz foi sumindo e uma outra figura de branco tirou ele da cama e disse ter vindo buscá-lo.  

Só deu tempo para olhar em torno e descobrir seu corpo, ali na cama hospitalar, rosto com maquiagem pesada – com base, pó e batom... “que nem uma drag”

Seu Tibúrcio achou aquilo, um fim de mundo. E era, de fato. Ele acabara de esticar as canelas. E se viu diante de um anjo, com aspecto andrógino, que viera lhe dar as boas vindas.