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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

IMPRESSÕES: A PRIMEIRA E A ÚLTIMA



Não creio nos homens que faltam com a palavra,

que fazem trapaças, 
que geram confiança

quando buscam votos 
e, quando eleitos, 
fazem tudo

para apagar em todos nós 
a primeira impressão.


Não creio nas coisasque dizem esses homens

que só trapaceiam 
e buscam beneficiar-se

depois de se fazerem santos 
para se revelar verdadeiros 
demônios 
na primeira ocasião.


Não vivo esse tempo de homens abjetos

Que fazem qualquer coisa 
para se sentirem bem

Sem levar em conta 
a avaliação daqueles  

Que deles têm uma definitiva 
e última opinião.


Por isso, não conto tempo,não somo suas coisas

E, tampouco, eu divido 
com esses homens

Sem respeito, 
que anoitecem na vida

Mesmo quando 
ainda é manhã.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Os dias em que eu nasci



Eu, que cheguei ao mundo no ano em que vim à luz,
nasci mesmo foi no dia em que entrei para a escola
e acabei com a cegueira das letras e algarismos
para mergulhar nesse mundo de prosas e de versos.

Eu, revelado no ano que da minha mãe apartado fui, 
Considero-me nascido mesmo no dia do primeiro afago, 
do primeiro beijo, do primeiro gozo, da namorada, 
que me levou ao primeiro adeus expondo meu coração.

Eu nasci no dia em que fiz pela promeira vez, sexo
Quando no trabalho, ganhei meu primeiro salário,
Quando, estudando, me formei na faculdade.

Eu nasci para o mundo no dia do que te encontrei
E renasci a cada instante em que te ouvi dizer
Que nasces a cada dia em que eu morro de amor por ti.      

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Oceanos de sangue e de lágrimas



As lágrimas derramadas pela humanidade
ao longo de todos esses longos anos, 
seriam suficientes para afogar o mundo
e formar milhares de oceanos ao seu redor.

O mundo já viveu tantos conflitos, tantos,
mas o homem parece não ter aprendido.
É necessário mudar a postura desumana
para encarar um tempo novo nessa Terra.

Até quando iremos manchar de sangue
as estradas do mundo e a sua História, 
por onde navegam anônimos e heróis?

É preciso estabelecer um novo tempo
Que reformule o homem e mude o mundo
Afinal, já somos bem crescidos para isso.  

domingo, 5 de janeiro de 2014

Croniqueta do mais além


Introspection - Be Chronically Well


Que parece um correio sem estafeta? Uma Roma sem papa? Algo possível de acontecer, mas difícil de se imaginar. É com esse pensamento que aporto nessa dimensão à procura de dividir meus conhecimentos de velho cronista, acostumado à escrivaninha da sala ou mesmo do quarto em casa, onde uma fianga cearense recolhia meu corpo cansado da lida diária. E eu dormia com os anjos, embora n(d)eles não me fizesse crente. Por aqui, não dei de cara com nenhum deles. Aliás, muitas coisas são fáceis de se ver, mas difíceis de contá-las. Tudo tem similitude com o que já vi(vi) e, ao mesmo tempo, parece novidade saída da última linha de produção. 


Daquele céu tedioso que as catequistas ensinavam aos meninos preparando-se para a primeira comunhão, com anjinhos barrocos tocando harpas, vestes brancas e auréolas na cabeça, não encontrei nada disso. Tem muita agitação, como pede a Vida. Pessoas circulam pela cidade – incrível, existem cidades do outro lado da morte! -, numa atarefada visão de sinergia que, provavelmente, algum leitor meu do diário de bordo que eu consignava nas folhas do jornal, irá dizer que eu bebi todas por aqui ou que bati com cabeça no caixão antes de descer à ‘última morada’. Que nada! Ando cambaleando por aqui, mas é com a pancada dessa ‘realidade’ que acabei de descobrir.


Os indivíduos não deixam de ser o que são. Pensamos, agimos, comemos, sofremos, temos saudades e - o que é mais interessante -, atuamos como se estivéssemos ainda na vigília. É, porque eu tenho a nítida impressão de estar dormindo e convivendo com um daqueles sonhos que me acometiam nos tempos em que, plantonista de uma clínica de doentes mentais, eu aproveitava que os doidos estavam todos dominados, para curtir uma soneca. Nessas horas, movido talvez pela dor na consciência de dormir no emprego, acordava em meio a pesadelos que, mais pareciam, os ares dos antigos asilos pinelianos.


Hoje, que me deram chance de chegar à posta restante de vocês, acuso-me decepcionado com tudo que me ensinaram da vida após a vida. Tudo é real. Tudo tem vida. Mortos estão aqueles que nunca se preocuparam em preparar a bagagem para o que me diziam aí ser “a grande viagem”. Tão fantástica quanto a lombra doida de um baseado curtido nas madrugadas do Estoril. Por enquanto, é isso o que eu consigo ditar aos extra-celestes, como passei a divisar a humanidade, dividida entre a que se diz viva e aquela que morreu. Eu sou parte das duas, muito embora por aí ninguém mais nem saiba quem se esconde por trás dessa descompromissada croniqueta do mais além.

E LÁ SE FOI 'SEU' ALMERINDO PARA O REINO DAS LUZES

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Toda quinta-feira, quando eu era convidado a conversar no templo erguido ali na praça da Polícia Militar, eu me encontrava com 'seu' Almerindo, sentado num banco do jardim de sua casa, ao lado do centro espírita que manteve por dezenas de anos. 

Costumava me lembrar de suas experiências espiritistas, além das viagens pelo mundo que fizera noutros dias, quando mais jovem. 

Nos últimos tempos, a sua mente denunciava um pouco do cansaço pela sua quase centenária no ambiente físico. Dera para repetir as conversas de quando embarcado foi parar em outros portos. Nunca deixava de citar fatos que ele registrou no movimento espírita, como as sessões de materialização ocorridas no seu centro, além dos inúmeros atendimentos a pessoas que buscavam a consoladora palavra da doutrina de Kardec. 

Quando o assunto era religião, ele o fazia com extremado apreço, contando nuances da espiritualidade como só alguém de largo conhecimento poderia entender. 

Pois seu Almerindo se foi para o reino das luzes hoje, por volta das 3 horas da madrugada. Uma voz ao telefone me comunica a passagem, pedindo que eu repasse aos amigos e conhecidos a informação. 

Para essa sua viagem, leva uma bagagem meritória de préstimos à doutrina dos espíritos consoladores e a certeza de ter cumprido a sua etapa de aprendizado e de ensino. Do outro lado da nossa dimensão, que ele possa reencontrar - com lucidez - a família, os amigos e os gênios que tutelaram seu trabalho nesses longos e longos anos. 

Saudades, 'seu' Almerindo!

sábado, 4 de janeiro de 2014

Asas do tempo

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O tempo tem asas.
Como homem gostaria de tê-las. 

Não para vencer o tempo, mas a distância.
Toda distância é medida pelo tempo.
 O tempo me dista mais de 60 anos de minha casa.
A minha origem está na outra linha desse tempo físico.
Eu sou um espírito que, momentaneamente, 

vive uma experiência humana.
Depois que o tempo não me quiser mais aqui,
um outro tempo me conduzirá às origens do eu.
E eu serei lembrança no tempo,
da saudade dos amigos,
no tempo de chegar aos lugares que deixei...
por um tempo.

A arte de matar o Tempo enquanto é tempo

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Ainda há tempo de contar o tempo
que se debruça sobre a cordilheira
dos anos que eu já cruzei na Terra,
ambicionando chegar a um destino.

Por ele passaram mitos que se foram,
Anônimos muitos que se renderam
à solidão de suas existências vazias,
como se uns pudessem e outros não.

Quem dera que eu fosse um caminho
E não o caminhante que, insistente,
circunavegou, tão só, pelo mundo afora.

Por isso, valor ao tempo que me resta
Eu dou, na esperança de que, ao cruzar
A linha final, eu não mate apenas o Tempo.