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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

A CARTA QUE FICOU DE CHEGAR

A CARTA QUE FICOU DE CHEGAR
Nonato Albuquerque


Um homem escreveu uma carta, colocou-a numa caixa dos correios junto a um envelope devidamente selado, mas esqueceu de um detalhe importante: endereçá-la. Tampouco lembrou-se de colocar seu nome no verso para uma futura localização. Ao recolher a correspondência para levá-la à sede da empresa, o carteiro deu de cara com aquele envelope sem destinatário e sem remetente.. Ao tomar ciência do fato, a chefia da repartição resolveu colocá-la no boxe destinado a cartas extraviadas.
Passados dez anos sem que ninguém reclamasse, a direção dos Correios resolveu abrir o envelope a fim de verificar se havia algum meio de identificar o missivista. Tudo em vão. Também a carta não distinguia em seu teor nenhuma pessoa específica, mas a sua mensagem tocou profundamente as pessoas que a leram. Dizia o seguinte:
"A quem vier ler esta carta, seja nesta ou em qualquer outra época, certifique-se bem se ao longo de sua vida alguém não ficou lhe devendo o envio de uma correspondência. Procure lembrar de quem viajou e ficou de escrever; de um amigo ou parente que lhe prometeu dar notícias por onde passasse; de uma pessoa muito querida que roubou seu coração e ficou de devolvê-lo, pelo menos, em fatias de luz através das palavras.
"Pare de ler esta carta agora e coloque sua mente para funcionar. Procure sinceramente lembrar-se qual a carta que nunca chegou às suas mãos? Quem é a pessoa que está em falta com você?... Pare e pense! 

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"Pois bem, eu sou essa carta que, um dia, deixei de chegar ao seu destino. A ética dos funcionários dos correios não permitiu que me abrissem, mas como tudo tem um tempo, esse dia do reencontro chegou. Venho às suas mãos lhe pedir mil desculpas pelo atraso; perdão pelos transtornos e sofrimento que, provavelmente, eu deva ter provocado. Mas se você está me lendo agora é porque conseguiu resistir a tudo aquilo e, melhor do que isso, conseguiu sobreviver para ler esta que é uma carta de despedida. 
"Sim, estou me despedindo porque agora que você sabe o quanto custa a espera, não demore a me colocar de novo no correio. Coloque no envelope o nome e o endereço da pessoa que você mais gosta no mundo e, que sem dúvida, ficará feliz de me receber a fim de contar-lhe que você conseguiu passar até aqui por todas as provas e dificuldades da vida, que está de pé acreditando na esperança como a grande força de ajuda, certo de que o "destino" tem sempre uma lição boa para nos dar. "Por favor, coloque-me num envelope ou mande-me num e-mail. Destine-me a quem você tem realmente afeto; deixe-me voar outra vez para a alegria de outras mãos e olhos que indicarão outros e mais outros destinatários a fim de que eu possa testemunhar a todos o quanto você é, foi e será feliz na vida que atualmente carrega".

(Texto de Nonato Albuquerque em Antena Paranóica)

A SÍNDROME DE CAIM

A SÍNDROME DE CAIM
Nonato Albuquerque


A violência é doença da alma.
Vem de eras longínquas;
estende-se a todos os ramos da sociedade humana.
Herdamos de Caim, a síndrome.
Esquecemos de Abel, a bonomia.
Asas partidas, anjos decaídos somos.
circunavegamos na carne vezes muitas
e, apesar de todo o conhecimento,
desconhecemo-nos francamente.
O socrático apelo do conhecer-se
não tem sido levado a sério. Nunca.
E aprofundamos o abismo no abismo.
Há ainda muito do selvagem de ontem,
habitando nossa alma,
abismada em meio a tanta modernidade.
Um dia virá, contudo, que isso findará.
Quando o Eu adormecido de cada um
reclamar a convivência do 'Nós' em todos.
Filhos do Legítimo, voltaremos ao lar
onde tudo começou e onde tudo recomeça.
E os gritos do silêncio, sufocados pela morte,
irão adquirir uma era nova, agigantando-nos
diante da nossa inferioridade humana.
Seremos anjos, sim. Em tempos outros...
Por enquanto, somos espíritos,
vivenciando uma experiência terrena.
Até que a (eterna) Vida nos separe.

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

EU, MINHAS ROUPAS

Ando nas MINHAS ROUPAS todos os santos dias
que muitos dos meus amigos
me reconhecem por elas.
São roupas comuns, simples,
sem compromisso com moda.
Tê-las é garantia de que não acabe saindo nu, por aí.
Quando pequeno, a roupa de marinheiro me incomodava:
não tinha mar no meu chão de seco agreste;
Nem navio algum para eu ficar a vê-los,
e por isso eu ficava a não ver navios...
A roupa da primeira comunhão me levou à igreja,
para bem a terceira vez que eu comungava.
Entrava na fila, pequeno ainda,
na batina negra, o padre nunca me empatou
de sem confissão nenhuma
eu cometesse 'o pecado' de vestir cristo em minha inocência;
Na juventude, as calças bocas de sino tocavam meus sapatos
E escondiam a falta de verniz que a poeira encobria.
Andei em roupas que se ajustaram ao meu corpo,
Bem como as que cabiam dois de mim.
Hoje, tenho paletós que me levam ao trabalho,
Bermudas que as conduzo em psseios pelos shoppings
Calções que uso, uma vez ou outra, na piscina.
Mas a roupa que melhor assume minha personalidade
É a que anda comigo em casa, despreocupadamente.
Não é look que se inveje; nem moda que se copie,
mas é a que mais me aproxima do menino
Que ainda em mim, eu visto.

O DISCÍPULO RENASCIDO

O discípulo renascido
Nonato Albuquerque
No sonho dessa noite, acordou-me essa ideia
Que um discípulo do Cristo, esteve aqui de novo,
em versão adversa a que se viu na Galiléia
retomando do mestre, a mensagem a seu povo
Da Europa nasceu em conhecida aldeia,
tomou graças de Deus e, pelo que comprovo,
se fez um homem santo pra que nessa epopeia
chegasse a altos cargos nesse atual renovo.
De vida prudente, aclamaram-lhe papa
no sínodo que elege só italianas figuras
pois foi ser de Cracóvia, esse novo eleito
assumiu outros nomes da magna capa
para simples ser, em meio a tantos curas,
que viveram o ensino do amor mais perfeito.

À Lorca, a quem amo

À LORCA, A QUEM AMO
Nonato Albuquerque
As devotas mulheres de luto
pareciam orquestrar 
uma sinfonia de silêncio,
por onde se filtravam,
na espessa luz do dia,
raios de sol por entre as crinas dos cavalos.
No obituário desse campo,
lembranças.
Uma expressão vazia de tristeza, por entre os véus negros
que anulavam aos olhos dos passantes,
a verdadeira face de quem chora.
Um mocho pia numa tumba próxima.
Um grito escapa de uma buzina atordoada.
Badaladas do sino encomendam um anjo
que é transportado num caixão de azul celeste.
Almas destemperadas de vida alguma
sonumbáticas formas de revelar o passado
Que eu vivi em minha Acopiara, muito antes de sair para o mundo e só viver saudades.

domingo, 20 de janeiro de 2019

SIGAMOS O QUE NOS ENSINA JESUS

SIGAMOS O QUE NOS ENSINOU JESUS
Nonato Albuquerque
Tantos crimes, tanta violência. 
O mundo passa por mudança. 
O homem com toda sua Ciência
não muda o ritmo dessa dança.

Planos surgem, neles a ingerência
Do Estado busca ganhar confiança
Do povo que, sem mais ter paciência 
Roga a Deus, sua última esperança.

Violência, fruto da desumanidade,
Ricos com muito e o povo sem nada
Leva entre dores sua enorme cruz.

Educação desde a menor idade, 
Para que ao fim de cada jornada 
Sigamos o que nos ensina Jesus

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

ROTAS DE LUZ



No itinerário sagrado da vida, há razões muitas que são capazes de transformar o homem desesperançado e o conduzi-lo a destinos de vitória. Para isso, preciso é que ele se fortaleça na fé e na esperança de que podemos determinar os rumos do destino.
O eco do passado e as experiências do presente, são forças produtivas e renovadoras a positivar o encaminhamento de toda trajetória humana. Todo futuro se formata a partir do que somos e experimentamos no hoje.
A alma que jornadeia o [ quase sempre ] encrespado mar da Vida, ambiciona sempre conduzir seu barco a uma destinação segura. Anela aportar com ele em um remanso, onde águas tranqüilas o depurem e renovem suas forças, onde vislumbre a segurança de aportagem.
A exemplo de todo marujo prudente, para se chegar a qualquer rota de destino há que se ater a um plano de viagem, cuja carta náutica tem o certificado das nobres virtudes morais.
Por isso, nesses tempos em que tempestades investem contra o barco da existência humana e o deixam aos solavancos e trepidações, recomenda-se recompor as amarras de luz que o roteiro da divina sabedoria recomenda.
Põe-te em guarda. Refaz teus planos. Orienta tua bússola. Planifica ultrapassar esses percalços de momento, certo de que ao leme da governança da Terra, está o mestre dos mestres, a guiar a viagem de todos os seres que estão no planeta.
Fortalece-te na fé que responde pelo combustível de toda esperança. Ajuda-te, capacitando-te a servir sempre aos que estão a caminho, que o céu te propõe iluminar as passagens mais difíceis dessa viagem.
Sereniza tua mente. Não vaciles. É tempo de provas e de buscar resultados. Prescruta melhor o caminho. Compreende que é momentânea a provação que te plenifica, ainda que, em alguns momentos, te sintas induzido a largar o barco e declinar do teu plano de viagem.
Sê contigo agora. Deus está contigo. Sempre.
De autoria de Nonato Albuquerque
Do blog 'Acabei de Chegar' (11.04.10)

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

CEARÁ ERA SAARA

CEARÁ ERA SAARA
No dia que decidiram que eu teria que nascer na Terra, o anjo Xico, meu guia de guarda, me estendeu um grande mapa e disse: 
- Onde o senhor quer nascer? 
Sem pestanejar, respondi:

- Numa terra do Oriente, de clima tórrido, sem chuva. Chão esturricado, mas que tem uma riqueza debaixo dele, que será o futuro do Planeta: óleo de pedra. 
Xico, ao que parece, não tinha lá muita ciência das coisas e foi preciso explicá-lo que era petróleo, o óleo do qual eu falava 
- Quero nascer aqui - disse apontando no mapa - e ser um dos herdeiros de todo o califado, pra viver uma vida de paxá: enriquecer e viver de ar (de brisa, devia ter dito pra ser mais compreensível). 
Pra evitar alguma dúvida, peguei o mapa, botei o dedo indicador na região onde pretendia nascer. No Sahara. 
E como ele tivera uma vida pretérita num reino croata, indagou-me: 
- Sahará? E eu, displicente confirmei. 
Pois num é que o desgramado do anjo trocou as bolas. Mandou-me pruma terra seca, que nem água tem pro gasto. Quando tomei juízo das coisas e que fui olhar direito, vi que o anjo Xico, meu guia, ao invés de Sahara me mandou com armas e bagagens pro Ceará. E só assim pude ver que ele trocou a acentuação tônica da palavra para a última sílaba do Sahara. E ficou Saará.
Mesmo que hoje ame demais essa terra, mas não esqueci. Ando fulo da vida com o anjo que me jogou onde ‘óleo de pedra’ tem. Mas refinado. Nos postos de gasolina. E caro pra caramba! E num herdei nem uma bombinha. E pra num dizer que ele errou de todo, vivo de ar. No ar. Nos meios de comunicação.
Tem nada não! Descubro assim que num é só humano que erra. Anjo, também. Só tenho pena sim, é de quem pediu a ele pra nascer em Boston. Ou Chicago. 


Confira a pronúncia do Xico em croata: Listen to Sahara pronunciation by Forvo Sahara

POR UMA GOTA SÓ DE VINHO



pelos mortos dos bares que abrimos
altas horas das noites mal dormidas,
velem as rezas dos que ainda têm vidas
para celebrar os tempos de arrimos. 

eram de poemas e prosas divertidas
as conversas que ali todos haurimos
em meio às doses muitas, sem medidas, 
que das centenas de botellas abrimos

o tempo, malgrado toda essa fortuna,
achou de trair-nos e nos mandar a morte
fazer companhia em nosso vil caminho

hoje, os ares dos meus bares tem visão noturna
de quem vive à sombra de sua própria sorte
e morre de sede por uma gota só de vinho.

(15.1.19)


NOSSAS PARTES DA LARANJA















NOSSAS PARTES DA LARANJA

a alma da gente só pode ser 
de gerações de antanho.

Nunca vi coisa igual.

Nos damos tão bem, 
mesmo com nossas diferenças, 
que nesses anos todos 
nunca um ofendeu o outro, 
de tanto amor que somos.

Vai ver, ser isso resultado 
daquilo que dizem existir
entre duas almas que se geminam. 
Aquele negócio da 'metade da laranja'. 

Às vezes, 
quando a vida amarga os meus dias, 
e eu temo azedar tua doçura, 
dou um traço, 
deixo tudo de lado, abraço tua serena presença. 

Pois tua metade me adoça com ternura 
quando juntamos nós dois, 
as nossas partes.