O fogo que arde em mim é de chamas antigas
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Postado por Blogger no UM BANGALÔ NAS NUVENS em 5/12/2018 11:47:00 AM
Quando através do sono nos libertamos temporariamente do escafandro corporal, volitamos por entre a dimensão do eu mais puro e visualizamos cenas que, geralmente, só os sonhos conseguem externar. É do substrato desses sonhos - e da criação poética - que se constitui este diário, revelando a incrível magia da dimensão da espiritualidade.
Nos acidentes fatais, onde assoma uma tragédia
Operam as forças de ajuda da engenharia divina
transmitem a endividados da crua idade média
o consolo imperioso, ante o que a dor determina.
Almas em desespero, situadas na intermédia
do físico e não físico como reza essa doutrina
sabem que tudo isso tem a ver com a mítica rédea
Do que a celeste Justiça a todos dissemina.
Quem faz o que não deve, arca consequência
Pois nada na vida deixa de ter sua providência
Na cobrança de equívocos de vidas lá do pretérito
A vida só cobra a dívida, de quem dívida ainda deve
e por mais que não pareça, ainda assim ela é leve
pune o mau por sua culpa e exalta o bom por seu mérito.
Um ser
mortal, dizem que eu sou
Mas minha
essência a isso contradiz
Pois não
se fala que Deus é amor,
Como poderia
fazer-me infeliz?
Eu sou filho
das estrelas e senhor
De meu
destino, sei-me aprendiz.
Por isso
sempre canto esse louvor
De gratidão
ao divino, o meu juiz.
Se amanhã,
quando não mais tiver
Esse meu
eu que construo a crédito
Quero nascer
da paz, na luz bendita.
Seja o
que eu for, homem ou mulher
Eu viverei
para atender ao édito
De cumprir o dever na romagem infinita
Na lápide
dos fantasmagóricos sonhos
que eu
tive, atinei uma inscrição insana;
ajuizando
fossem meus dias medonhos
quando a
morte me flagrasse na aduana
Teria
inscrito: “estou despido”. E à paisana
adentrei o mundo de ares tão bisonhos
onde nada
lembra a cultura greco-romana
De ser o
astral, o lugar de anjos e demônios
Ao contrário
disso, achei floridos jardins.
centros de
convivência, áreas de repouso,
onde almas
descansam da faina e da fadiga.
Se como dizem os meios justificam os fins
eu deva ter feito algo bom, lembrar não ouso,
Pra alma ocupar o lugar onde hoje se abriga.
Nonato Albuquerque
Pena de morte, gritam nas ruas as vozes,
ante a avalanche da violência que salta
aos olhos de quem vive o estupor da malta
e se obriga a viver com a fúria dos algozes.
Por toda a parte, há lamentos atrozes;
medo do crime que a todos sobressalta,
já que o poder de vencê-lo estar em falta
represado pela força de muitas fozes.
No silêncio das igrejas mães desfiam rosários
pelos filhos que as facções silenciaram
e passaram a viver no lado oposto da luz.
Pena de vida a todos, advogam os emissários
do alto, que dos humanos nunca se separam
repetindo a lição do bem, do bom Jesus.
Eu sou do tempo em que o tempo nem era
Vivia-se uma era, mas sem tal conotação.
Vim das cavernas ao topo da extrastosfera
Quisera eu provar toda essa locomoção
Vivi o paleolítico, o neolítico e se me dera
a esfera da mente ter da memória, noção
Diria que passei fases feito homem fera
Em tempo longevo de outra encarnação.
Roubei, matei, esfolei vidas, morri tantas
Pelo guante tirano que eu mesmo herdei
Até cobrar em mim, a dívida atrasada
Vivendo e aprendendo eu soube quantas
vezes foi preciso ir de vagabundo a rei
A ser samaritano em minha nova estrada.
Grande é a bondade do Eterno e infinita a sua misericórdia.
Sobre isso,
conta-se que no Oriente antigo, na acolhedora cidade das palmeiras em que se
transformara Jericó, era acerba a disputa de ideias religiosas e angustiante se
fazia a intolerância de seus contendores. Nela, o velho Melquer, aplicado às
vendas de candeias no mercado, se portava como sábio entre os que alimentavam
as querelas da terra e discutiam os mistérios indecifráveis do céu.
A última
delas dizia respeito a exigência de orar, sempre voltado para a Meca, atendendo
a um preceito muçulmano. Para isso, todo fiel seguidor devia usar uma bússola como
guia ou observar a posição do sol no tapete, enquanto repousava sua fronte na
pedra de karballah.
O velho Melquer
destoava de todas essas dogmáticas exigências. Orava com o rosto levantado
para o alto, batendo no peito e fechando os olhos ao mundo exterior. A quem o
condenava dizendo que ele insultava os ofícios do sagrado, por não buscar a orientação da honrada Meca, respondia paciente:
- O Eterno
vive no mais alto dos céus. Mas Ele é tão abundantemente misericordioso que se permite
mergulhar no profundo poço dos nossos corações. Por isso, alimento a minha
prece dirigindo meu pensamento ao distante mais distante, mas que misteriosamente convive nas cercanias mais próxima do meu eu. Porque o Inacessível e o Inalcançável tem
o dom de operar seu poderoso ofício nas nas cumeeiras mais altas do firmamento, mas Pai amante dos seus filhos, sempre elege para repouso o colo sagrado de nossa alma.