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quinta-feira, 28 de setembro de 2023

HOMO SAPIENS x HOMEO DEUS

HOMO SAPIENS X HOMO DEUS

Um dia passou por esse chão
um homem que sinalizou
os caminhos do futuro.
Ele dizia que éramos deuses
e tínhamos nós o poder
de fazer possível, o impossível.
O tempo, essa fera voraz
que a todos devora, mostrou
nossa fragilidade e ignorância.
E nós, apesar de todas
as nossas conquistas,
nos sentimos órfãos das forças divinas.
Hoje, a grandeza
de quem até ontem foi "sapiens",
revela o atestado que poder é nada.
Sinto que estamos matando
cada vez em nós, o 'homo-deus'
pelo qual fomos chamados um dia.

(Nonato Albuquerque)     

terça-feira, 26 de setembro de 2023

 

O MEU QUARTO
Nonato Albuquerque

No universo do meu quarto,
moram poetas sagrados;
santos, os mais devotados
a quem rezo e não me farto.

Convivem sempre comigo
pintores, escolas diversas
contistas de muitas conversas.
a quem eu dou sempre abrigo.

Nesse universo que eu lido
Vivem mortos de saudades
os que da vida fazem parte

E eu a todos convido
a que celebrem, senhores
O dom da vida e sua arte.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

FÁBULAS FABULOSAS DE NONATO: A DO CARANGUEIJO LERDO

 FÁBULAS NONATIANAS 

O CARANGUEIJO LERDO



No mundo dos crustáceos, a lagosta era tida como se fizesse parte da elite da espécie. Era finessse. Só frequentava a gastronomia dos nobres - como se morrer pra isso significasse grande coisa.
Ela, porém, discordava. Qualquer habitante do mar poderia progredir na vida. Para isso, muita inteligência e esforço próprio.
E convidou a todos a assumirem esse desafio.
O carangueijo, que morria de preguiça e não tinha massa cerebral para pensar, deu de ombros - ou melhor de garras - desgarrou-se do grupo para continuar vivendo sua vida e andando de banda. s.
Moral da história: QUEM NÃO ANDA PRA FRENTE E TEM UMA VIDA LERDA, BOM FUTURO NÃO HERDA.
P.S. – A rima era outra.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

ENCHENTE DE LUZ



quero voar 

da escrivaninha onde me pauto 

entre folhas de papel e caneta

para poemar 

o meu vôo

tem a dimensão das estrelas 

e o rastro luminoso que traça 

me e(n)leva.

mistério 

é tudo que espero recolher 

desse plantio de letras e sons,

santuário 

do meu ser, a poesia me alaga 

como uma enchente de luz. 

sábado, 16 de setembro de 2023

LEMBRANÇAS DO VENTRE DE MINHA MÃE

Antes de aqui ser quem sou, 
admirava as juras de encanto
trocadas a sós pelos meus pais
enquanto no ventre eu flutuava.

O riso de minha mãe adoçava
esses momentos conquanto ainda 
apenas começava a se definir
o físico que hoje trago e tenho.

Admirava sentir o abraço deles 
e o olor de flores que espargia
da pele da mãe, engravidada.
 
Nasci. Criei-me à custa desse élan
enigmático que me ajudou a ser
o ente gerado com afeto e amor.

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

UMA VIAGEM DE MISTÉRIO E ENCANTO À ODISHA

 

À noite, quando dormimos, o que somos em essência – alma, espírito – transita com facilidade pelo universo paralelo que nos cerca. Algumas vezes, sonho. Noutras, desprendimento. Em todas, sempre acontece um “download espiritual”, como vêm sendo designadas as informações difundidas de dimensões extrafísicas. Em todas elas, mistério e encanto.

Em setembro de 2023, me deparei num eremitério hindu. Era um ambiente aconchegante, onde divisava as figuras de Belchior e um eremita jovem, vestindo o que - quando acordado pesquisei ser um sherwani, um tipo de casaco longo comum em usado em ocasiões formais pelos hindus.

Ao cumprimentar Bel, ele adornava seu rosto com um sorriso, cuja boca deixava transparecer tres dentes brilhantes, ao que eu indagava a razão deles.

- Você o vê quando sintomizamos nossas conversas na tríade dos elementos água, fogo e ar. 

Do que consegui filtrar do encontro, lembro-me dele falar que antigos povos na Índia atingiram uma certa evolução capazes de se inter-relacionarem com "o  universo paralelo".  Entendi como se vivos pudessem atravessar o portal da dimensão física e conviver naturlmente com o mundo espiritual.

O próprio jovem hindu contou-me essa gente vivia em Odushin - que viria depois pesquisar e a escrita correta ser Odisha(*) -, "uma espécie de paraíso situado acima do Índico". 

Ele próprio dizia fazer essa "viagem" com frequência, ao que lhe perguntei se ele era uma "emanação". Ele apenas sorriu.

Enquanto folheávamos diversos libretos em idioma que eu não saberia distinguir, eu elogiava Belchior pela sua saudável aparência . E ele apenas me dizia "como não poderia estar ao lado desse swami".

Nesse ponto eu me levanto e faço uma reverência dirigida ao jovem acompanhada da citação namastê e saio.

Curioso: a porta do lugar onde eu estava dava exatamente para a praça da Bandeira de Fortaleza e eu me surpreendia de estar voltando pra casa ali no Bemfica. Foi quando me acordei, encantado com a visão. 

(*) Orissa, oficialmente em inglês Odisha e, por vezes na forma histórica portuguesa Orixá, é um estado da Índia localizado junto ao Golfo de Bengala. Seus limites em terra são os Estados de Jharkhand a norte, Bengala Ocidental a nordeste, Andhra Pradesh a sudoeste e Chatisgar a oeste. A capital é Bhubaneswar. Foi criado a 1 de abril de 1936 como província da Índia britânica. Essa data é celebrada hoje em dia como Utkal Dival (dia de Orissa). (Wikipédia)

SANTUÁRIO BENDITO


Santuário bendito
esse que norteia na Terra,
o aprendizado do trabalho
esse que transmuta a Vida,
em bênçãos de tranquilidade.
esse que traduz em Sonho,
o ideal de esperançar sempre.
esse que vagueia pelo Ar,
balsamizando os nossos pulmões.
esse que nivela o Fogo
à capacidade de moldar as coisas.
esse que motiva a Água
a significar riqueza afortunada.
De bênçãos seja feito o Dia.
De amores seja eleita a Noite.
E que os homens e mulheres do mundo
resignifiquem a Voz
entoando um cântico novo de Alegria
de concretizar no amanhã,
o dever que era preciso cumprir Hoje
certos de que no Futuro,
o ontem será memória perseverada.
A todos Paz e Bem.
No iluminado mundo em que estiverem.
Amém
(Nonato Albuquerque)

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

DA MINHA INFÂNCIA PERDIDA

os céus da minha cidade 

estão no azul de teus olhos 
por onde navegam sonhos
de encantos primaverís.

Tormentas muitas da alma
teu peito, qual porto abriga
enquanto os ventos da mente
buscam por outros navios.

de vez em quando adormeço
nesse oceano de luz
a barca da minha poesia. 

certo de que um novo tempo
busca em tuas águas a bússola
de minha infância perdida.


de Nonato Albuquerque (11.09.23)

domingo, 10 de setembro de 2023

O CRISTO TORTURADO QUE ADORAMOS

Toda vez que vejo a imagem do Cristo 

na cruz exposto

seminu em seu martírio,

com suas muitas dores e feridas 

tenho a nítida impressão de que 

em muitos há mais gosto

pela macabra visão da tortura do Cristo 

do que pela sua luz


É como se eles admirássem a crueldade 

explícita no rosto 

da imagem, e fossem pelos ritos 

das pregações conduzidas 

a nutrirem essa paixão, num ato 

de masoquismo exposto 

do que as lições do primato de amor 

por ele traduzidas. 


Quão desafortunada não seria a mãe 

que resolvesse do filho 

guardar uma foto na parede 

do instante de seu sofrimento 

como se colecionasse ali sua mais forte 

e viva lembrança 


Devemos sagrar o Cristo na memória, 

com seu intenso brilho.  

No amor que pregou e no bem que fez 

com todo o sentimento 

da alma mais pura que veio dividir na Terra 

toda a esperança. 


sábado, 9 de setembro de 2023

CONVITE PARA UM JANTAR COM DEUS

CONVITE PARA UM JANTAR COM DEUS Nonato Albuquerque

Vocês me deixam eu contar um sonho. Um belo sonho, por sinal. Ou um desdobramento como costumo definir essas visões. Nele, um homem de notável aparência, semblante tranquilo e expressivo sorriso no rosto, resolvera numa noite atrair para um jantar uma multidão de famintos em situação de rua. Na verdade, um grande banquete numa praça toda iluminada.

Enquanto ele caminhava pelas ruas convidando os miseráveis para a festa, entoava uma terna canção de amor à Vida, que atraía a atenção de todos que se abrigavam sob as marquises das lojas para o sono.

Sua canção foi ganhando outras vozes, entre os convidados, e um grande coral foi-se formando preenchendo o vazio das ruas adormecidas e sem tráfego.  

Ao se levantarem das calçadas, os necessitados de toda sorte, traziam um estranho brilho em redor de si. Já não eram os maltrapilhos de sempre. Os deficientes sem mobilidade. As crianças de rosto sujo. Os idosos decrépitos pelo peso do tempo e nem as mulheres de roupas rotas e sem condições de se arrumarem.

Ao chegarem ao coração da praça, onde devia se dar o banquete, se depararam com enorme mesa, disposta com os alimentos mais sugestivos, servidos por uma equipe de transluzentes e solícitos auxiliares.

Todos tomaram assento, mas só poderiam começar quando o benfeitor desse a devida autorização.

O homem, então, em meditativa postura, profere uma enternecida oração – a mais bela prece que os meus ouvidos já escutaram – acompanhada em silêncio por todos os presentes.

Ao término, ele autoriza para que todos se sirvam, e anuncia que aquele jantar era patrocinado pela figura mais importante da humanidade, o Cristo.

Nesse instante, um clarão enorme se faz sobre a praça. E como se os céus se abrissem,  de um portal, descem por uma escada aureolada de luz, figuras angelicais surpreendendo a todos.

De forma mágica, ouve-se uma voz, anunciando que aquele senhor havia cumprido a sua última tarefa de sua jornada terrena e precisava agora atender a um indispensável compromisso. O de jantar, naquela noite com o divino mestre, nas claridades infinitas dos céus.

De repente, eu fui desbloqueado daquela encantação e e voltei rapidamente ao meu corpo; certo de que as almas dos mendigos ali reunidos estavam sendo alimentadas pela virtude maior do amor que é a graça e a bondade de Deus.