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terça-feira, 19 de novembro de 2019

Um Jesus entre tantos cristos

Eu vi um Jesus sem teto,
morador de rua, "homeless",
desempregado,
caído junto à fila do Sine.
Era um Jesus sem casa,
sem calçado, na calçada
de uma firma
que à noite acolhe mendigos
eu vi um Jesus insone
enrolado em folhas de jornais,
reivindicando
a solidariedade dos passantes.
Não vi nenhum cristão parar
e atender à súplica com a esmola
caritativa,
dos que desejam ganhar o céu
eu vi um Jesus morto de fome,
misturado a outros cristos
na sociedade
onde todos se dizem irmãos.


domingo, 17 de novembro de 2019

FORTALEZA SAUDADE

(in memoriam à Jáder de Carvalho)

o olhar de menino do interior, 
que a cidade alcovitou um dia 
adormeceu uma paisagem 
de terra, água, amor e muito mar.

no porto onde naus descansam 
meu olhar desejou ser um navio 
e singrar os sete mares do mundo 
sem choro, medo e sem adeuses. 

Não ia dizer nada a minha mãe 
que desligado o meu umbigo 
mantém aprisionado meu coração 
com receio desse meu outro destino 

Nas areias do Mucuripe, flagro 
ainda o menino já descalço 
à sombra de um carvalho nome 
poetando versos, vozes e (en)cantos 

Um dia, eu navio de mim mesmo 
velejei no mar da Vida a outro porto 
oonde vim jornalistar esse outro lado 
que é o lado de lá, do lado mar. 

o céu que os padres me vendiam 
é lugar de trabalho, sem descanso
sem necessidades de indulgência 
nem petitório aos protetores santos.

Náufrago dessa enseada de luz 
vejo surpreso, navios já cansados 
atracarem neste porto, sem aviso
aos lenços em aceno de saudades. 

Que a terra bárbara onde eu vivi 
um tempo bom, bom tempo tenha;
e que o farol do mediúnico estafeta
brilhe com essa fortaleza saudade. 

Vidas duplas


vivemos vidas duplas 
quando acordado e dormindo 
realidades convictas 
que fazem parte de um todo

quando despertos estamos 
correndo o mundo, vivendo 
as emoções que nos fazem 
melhores a cada instante 

quando no sono caímos 
estamos com outras pessoas 
que vivem duplos conosco 

também nos comunicamos 
com os que a nós todos 
antecederam na viagem. 

sábado, 16 de novembro de 2019

como entendo a terra, nesse momento

Reflexões
como entendo a terra, nesse momento

No princípio, a Terra era o destino-porto de todas as almas
sofridas pelo pecado de origem;
hospital-socorro às vítimas do erro e da injustiça;
escola-reformatório à todos os analfabetos de virtudes
e presídio-regenerador a quantos mancharam suas fichas de identificação.

E vieram os pseudo-sábios e escravizaram as almas doentias
atormentado-as ainda mais com o pecado do eterno.
Superlotaram o hospital com seus erros e injustiças;
desvirtuaram o ensino, analfabetizando até os que já eram virtuosos;
identificaram-se com o crime, cadastrando-se para as tormentas do presídio.

Eis que foram dadas novas e oportunas chances
aos que têm a alma em dor e já compreendem o pecado.
Esses, tomaram a frente para atender aos sem-hospitais e sem socorro;
matriculando-se na escola de todas as virtudes
e auxiliando aos encarcerados a compreender a justiça da lei e as leis de justiça.

Novos céus e novas terras são prometidos para daqui a pouco,
quando as almas dessa atual geração terminarem sua etapa missionária.
Os que socorrerem os que erram, clarificarão a Justiça;
os que escolarizarem a moral e a ética
se doutorarão em novas e mais sábias virtudes
E os que têm a cumprir a lei de causa e efeito
serão conduzidos a uma outra gênese,
Onde superlotarão novos hospitais,
matricular-se-ão em novas escolas
e ainda terão que suportar os efeitos da lei,
por amor ao amor e à causa da própria Justiça.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Carta de amor Opus 1

Carta de amor Opus 1
nonato albuquerque

escrevo-te essas bem traçadas linhas
para dar conta do que te devo, resposta
de como andam as tuas e as minhas
coisas, das muitas que a gente gosta

não sou de esconder em entrelinhas
a verdade que tenho e que bem posta
revela-te minha alma e se adivinhas
e ti entrego-te assim aqui exposta.

não rias desse meu vetusto gesto
de falar como nos velhos alfarrábios
é que somos de antepassadas eras

se nessa existência não te sou modesto
é que lições aprendi com outros sábios
a me guardar pra ti noutras esferas.

domingo, 10 de novembro de 2019

Celular e céu lugar


dos vícios meus,
que atento ainda descrevo
como inimigos
o do celular nesses dias de hoje
é o que mais compulsivo me faz.

deixei o cigarro
e hoje me alimento de ler
o celular
a cada depressivo instante meu
olho para ele e ele me responde

que diabo tudo isso!
me salvei de uma escravidão
e caí noutra
quando depurar-me de tudo isso
devo alcançar o céu, meu lugar. 

APELO


Nonato Albuquerque
ESCRITOS MEUS
Apelo
Nonato Albuquerque
Se minha voz, por acaso ou por descaso, se calar,
não emudeça a sua.
Fale o quanto for possível para que acorde
o acorde do meu som retido na garganta.
Se me detiverem os passos, caminhante eu vacile,
Por favor, ajude-me
a seguir nos braços teus por onde tu andares.
Se minhas mãos não escreverem mais uma só linha
ajuda a tecer com os olhos
o fio do coração a transmutar do silêncio o meu discurso.
Que eu não sou de me calar diante de qualquer tropeço.
Muito menos ainda,
deixar de ouvir as vozes que se afinam aos sons da minha.
Prometo andar contigo um século inteiro e mais um dia,
Até que eu, essência,
me liberte do casulo-corpo e circunavegue as alturas.

Currais da morte (a Fco. Carvalho)


ESCRITOS MEUS
Currais da morte (A Francisco Carvalho, in memoriam)
o canto de minha poesia, reside hoje em dia
na tradução mais legítima do presente.
Não cheira o álacre dos currais de gado
tampouco versa nas rimas dos aboios.
Adulta, ela se alimenta do hálito das nuvens,
Embriaga-se na brisa das crinas dos cavalos.
Longe das lambanças que, nos engenhos,
eu repuxava das gamelas o alfinim em fios.
Minha poesia desse tempo busca as rimas
Que tanto reclamei em noturnas temporadas
Quando só, primaverizava lúdicos sonhos.
Hoje, ela sobrevive da essência da saudade
E nessa dimensão busca recriar em fatias de luz
A alma que ganhei ao transpor os currais da morte.

A doença do beijo


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

poema inacabado ao meu anjo de guarda


Meu anjo-de-guarda, que chamo de Francisco,
costuma tocar alaúde nas horas de meu sono
Num átimo de tempo, como se fosse um cisco
minha alma ganha os ares, do corpo em abandono.
na imensidão do cosmo a lhe buscar, volito
tentativa de achar o bem do meu passado
embora saiba que comigo, rumo ao infinito
ele cumpra a tarefa de estarmos lado a lado.
que eu eu não faça a esse anjo, nenhum pedido
que não seja o de render eterna companhia
para que a minha vida mágica se expanda
`(...)

terça-feira, 5 de novembro de 2019

RENASCIDO EM DORES


RENASCIDO EM DORES
Caminhante eu, era de outroras eras,
Entre bárbaros sequazes, vilões cruéis
A destruir sonhos, ideais, quimeras,
Por conquistas vãs, parcos lauréis.
Imaginava com assédio dessas feras,
O ideal: sagrar-me rei de antigos infiéis.
Arrostava sob o guante das esferas
Do mal, a sanha indomável dos corcéis.
Desolados corações deixei à passagem
Da horda sedentária, ruminei plagas,
A bramir ódio sob todos estertores.
Em armadura de carne e na voragem
Do tempo, me vi; corpo repleto em chagas
Para cumprir a Lei, renascido em dores.
Nonato Albuquerque
Sob a inspiração
de Jésus Gonçalves
16/11/2012

sábado, 2 de novembro de 2019

Tempo, senhor da razão


TEMPO, SENHOR DA RAZÃO
Assim como os antigos, temos muitos deuses
Embora nossa crença direcionada a um único.
Um deles é o Tempo. Ele é senhor de todos nós.
A nos mandar e comandar. Somos dele, escravos.
Perdê-lo, imperdoável. Matá-lo, pretensão tô-la.
Por isso, muitos estão a lembrar da sua corrida;
Da pressa que devemos, pois que ele é passante.
Que a hora é chegada, que o tempo não espera,
Que é perda de tempo se perder entre as horas
E, mesmo que tivéssemos mais do que as do dia,
O tempo entre o nascer e o deixar de ser, é ínfimo.
Na pressa dessa Vida, o Tempo é um cobrador
Que bate à nossa porta, exigindo a nossa pressa;
O tempo urge. A hora é chegada. Acabou o tempo.
Muito embora, esse deus, infinitamente dure.