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quarta-feira, 24 de maio de 2023

domingo, 21 de maio de 2023

UMA FORTALEZA SAUDADE

 UMA FORTALEZA SAUDADE

Por Nonato Albuquerque 

(in memoriam à Jáder de Carvalho)


O olhar de menino do interior, 

que a cidade alcovitou um dia 

adormeceu uma paisagem 

de terra, água, amor e muito mar.

No porto onde naus descansam,

meu olhar desejou ser um navio 

e singrar os sete mares do mundo 

sem choro, medo e sem adeuses. 

Não ia dizer nada a minha mãe,

que desligado o meu umbigo,

mantém aprisionado meu coração 

com receio desse meu outro destino.

Nas areias do Mucuripe, flagro 

ainda o menino já descalço 

à sombra de um carvalho nome 

poetando versos, vozes e (en)cantos. 

Um dia, eu navio de mim mesmo, 

velejei no mar da Vida a outro porto 

onde vim jornalistar esse outro lado 

que é o lado de lá, do lado mar. 

O céu que os padres me vendiam 

é lugar de trabalho, sem descanso,,

sem necessidades de indulgência, 

nem petitório aos protetores santos.

Náufrago dessa enseada de luz 

vejo surpreso, navios já cansados 

atracarem neste porto, sem aviso

aos lenços em aceno de saudades. 

Que a terra bárbara onde eu vivi 

um tempo bom, bom tempo tenha;

e que o farol do mediúnico estafeta

brilhe com essa fortaleza saudade.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

MEU REINO POR... UM CAFÉ E UM BOM LIVRO


Meu reino por um cavalo, 
teria dito Ricardo III
em shakespeariano texto.
Meu reino por Wallis Simpson, 
admitiu Edward VIII
ao abdicar o trono inglês. 

Quantos outros exemplos de figuras 
que sacrificaram tudo por suas crenças e ideais.

Virando a página do tempo, 
eu particularmente 
trocaria tudo que possuo 
por um bom livro e um café.
por eles, meu reino eu divido 
com ele, minhas parcas conquistas. 

Pelo primeiro sabor do dia, acordo 
por uma boa leitura, eu anoiteço. 

quarta-feira, 3 de maio de 2023

VIDA MORTE, MORTE VIDA


 

RESGATE inspirado por Ciro Costa

 Nas vagas noturnas, por onde o mar ressoa, 

a nau dos infelizes avança, ganha espaço 

transporta ao horizonte de uma nova coroa

vidas roubadas à custo de cutelo e baraço. 


Da África berço mãe, que é o seu leito regaço, 

os filhos dessa terra em galés se amontoa 

respirando o acre do azedume e do bagaço 

que lhe servem de alimento na líquida insoa


Quem de haveres do passado, essa lembrança 

guarda para refletir no outro lado do espelho 

que a roda do tempo, em outros dias, deslinda?


Os donos desses escravos hoje estão na dança 

que as vidas mal vividas recebem a conselho

de resgatarem o mal feito por essa dívida ainda. 


CC / 3.5.23