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segunda-feira, 29 de março de 2021

RETRATO FALADO DE UM HOMEM CHAMADO JESUS

Um excluído, cidadão de uns 33 anos, é preso, torturado e executado de forma arbitrária. Seu julgamento durou menos de 24 horas, entre a prisão e a morte, assistida por dezenas de pessoas. O crime pelo qual foi condenado não ficou bem definido. Há suspeitas de que ele vivia à margem da lei. Que pregou uma nova ordem social, na qual as pessoas deveriam viver no Bem, na Esperança e na Caridade.

Ousado, ele chegou a incitar as multidões a abandonarem os vícios e as maldades do ódio e da violência. Seus algozes o acusaram de andar em bando, com uma espécie de gangue que chegara a danificar um templo religioso, expulsando os comerciantes que, segundo ele, assaltavam o consumidor no peso e no no preço.
Preso pelas milícias oficiais, depois de várias tentativas frustradas, esse homem quase foi linchado pela multidão, a qual ele assistiu durante três sucessivos anos, ensinando regras de comportamento ético e de uma vida saudável para o corpo e para o espírito.
Foi a ajuda de um integrante de seu grupo, por meio do expediente da delação, que deu à polícia a chance de localizá-lo. Sua prisão não obedeceu a nenhum critério da lei ou respeito aos direitos humanos.
Sua identidade é bastante conhecida, mas há em torno dele um grande mistério. Partidários e até inimigos são unânimes em garantir que ele sempre se portou em favor dos pobres, doentes, assassinos, prostitutas e miseráveis, tendo anunciado a Justiça em defesa dos oprimidos.
Esse homem, sem residência fixa e cujo destino todos ignoravam, costumava atrair multidões às praças e aos logradouros onde pregava lições que jamais foram ouvidas da boca de alguém: o dever de amar os inimigos; esquecer pai e mãe para segui-lo; a promessa de um lugar no paraíso para os pobres de espírito; a igualdade dos povos e a sua filiação divina; a crença de que todos somos deuses, além de buscar fazer pelo outro aquilo que desejaríamos que nos fizessem.
Preso, torturado e executado em via pública, num local denominado Morro da Caveira, esse homem mereceu o registro maior de todas as violências.
Seu nome: Jesus.
Seu crime: ter amado a humanidade.
Texto do jornalista cearense
Nonato Albuquerque

sábado, 27 de março de 2021

PAISAGEM

 PAISAGEM

nonato albuquerque



Era um pássaro
era um par
de asas, cada uma
um caso
de se ver e amar.
era um infinito
que por ser
tão grande, parecia
um rio
corrente pro mar.
éramos nós
de amados
diamantes que somam
a paisagem
no instante se achar
e eu nascido
colheita do
instante, amável
só espero
tua boca me provar

sexta-feira, 26 de março de 2021

A ESPERANÇA DE SER ANJO

Eu já andei feito um lagarto em outras eras.

Nadei como peixe, embora preso a um aquário.

Fui símio louco. Selvagem imitei as feras

que cruzei em tempos do período terciário

 

Corri matos, matas. Me embebedei de heras.

Delas destilei o veneno do meu serpentário.

até criar asas e volitar por épocas mais austeras

onde de lagarta borboleteei em novo vestuário.

 

Hoje da fera que fui, herdei comigo um traço

que só revelo quando minha alma se desarvora

e põe abaixo a legião de bichos que inda eu tanjo.

 

Basta alguém me olhar torto e, logo, ergo o braço

revelando a besta fera que inda comigo mora 

e que ensaia, há tempos, esperançar ser anjo.

O RIO QUE DESÁGUA NUM MAR MAIS BONITO

O RIO QUE DESÁGUA NUM MAR MAIS BONITO 


Eu sou do lado de lá; oposto do de cá.

E num invejo a quem aí vivo se encontra.

Vivo como alma que se diz já pronta 

Pra hora de outra vez reencarnar.

 

Aqui do lado de cá, a gente afronta

a estória de que quem morre será

um fantasma que só temor apronta

a quem na Terra não veio inda pra cá.

 

Pois nesse vai e vem, dos dois planos

a vida prossegue, a gente não morre

e é nisso que hoje eu mais acredito.

 

Quem pensa o oposto, verá em alguns anos

Que a vida é um rio que pra cá escorre

E deságua num mar, inda mais bonito.  

CHÃO SAGRADO ou O dia em que o anjo meio surdo trocou Saarah por Ceará

CHÃO SAGRADO
Quando me aprontava para nascer,
um anjo guia deu-me a relação
de locais que pudesse eu escolher
para iniciar essa nova encarnação
Eu queria muito filho de um sheik ser,
em terras com petróleo pelo chão.
E falei: lá chove pouco, é seca de doer,
mas uns ‘dólar’ faz bem ao coração
O diacho do anjo, surdo, ignorante,
ouviu o nome dito e anotou errado
e me enviou pra bem longe de lá.
A terra onde nasci é escaldante,
embora a considere chão sagrado
mas era Saarah, anjo, e não Ceará

(nonato albuquerque) 



domingo, 21 de março de 2021

O CANTO NOSSO DE CADA DIA

Todas as tardes, bem de tardezinha, 
eu abro a janela que dá para o poente 
e vejo o sol lento consagrando o dia 
como a dizer que cumprira sua tarefa. 

Todas as noites, a cada final do dia, 
eu abro a janela dos sonhos e penetro 
a sacralidade de seu espaço mágico 
onde minha alma se liberta inteira. 

Todas as manhãs, quando é novo dia, 
eu renasço e comigo essa promessa 
de que tudo na vida se renova sempre. 

É que a esperança, derramada em gotas, 
torna líquidas até as coisas mais sólidas 
para que a Vida se proclame intensa .


@nonatoalbuquerque

quarta-feira, 17 de março de 2021

RECEITA PARA SE TORNAR UM ANJO

 Para ganhar asas de anjo 

preciso é dispensar todo cuidado 

aos ditos pequenos infantes. 

São eles peças de luz 

que nos empresta o divino 

para sagrar em nós os bons instantes.   


Para ganhar as asas é preciso 

zelar pelos pequenos seres

com sabedoria e consciência. 

Fazer com que sempre, sempre

eles projetem aos olhos do mundo, 

a pureza do céu em sua inocência. 


Para vencer os ímpetos da dor 

abençoar as feras e as crianças 

que se dedicam a essa harmonia.

Por elas vencer o mal que ainda há

e torcer para que o mundo 

os transforme em bênçãos de alegria.

domingo, 14 de março de 2021

A RAZÃO DE TODA CRENÇA

Quem na vida toda só ouviu o sacerdote

impor aos fiéis a temer mais o inferno;

cresceu sem saber que o céu é o mote

que se deve ao ensino mais fraterno.

 

Todo pecado, seja ele interno ou externo,

Dizia-se que ao pecador caberia o dote

da morte, se destinando ao fogo eterno

Embora seja o céu o caminho que se adote.

 

Se há religião na Terra que hoje ainda investe

em fomentar o medo com o seu proselitismo,

corre o risco de ser levada na total descrença

 

Pois entre a fé cega e a raciocinada, há o teste

do qual vencerá a que coloca o cristianismo

no altar sagrado do bem, razão de toda crença.


sábado, 13 de março de 2021

CÃO DE GUARDA

Ando à procura de mim mesmo.  

Não é difícil descrever-me. 

Tenho a altura do que sou,  

Nem magro de ideias, 

nem gordo de defeitos. 


Meus olhos focam o futuro mais longíquo. 

Meus ouvidos, as vozes sábias 

dos grandes mestres do passado.


O desenho do meu rosto 

é igual ao que revela o espelho; 

embora, intimamente, 

minha alma tenha as dimensões do eterno. 


Quem me conhece 

diz que eu rescendo o perfume dos anjos 

por conta das coisas que falo 

e que entôo o cântico das estrêlas. 


Ando à procura de mim e peço, 

a quem souber do paradeiro, 

pode achegar-se sem medo, 

Eu não agrido, não mordo, garanto.  

Sou como um cão de guarda 

que anseia apenas o encontro 

com a estima de seu dono. 

NÃO MANDA EM MIM

 

Não manda em mim

Quem me sufoca o respiro

Nem compromete

A liberdade de minha voz

 

Não manda em mim

Quem governa meu centro

E me impede

De andar livre por onde vou

 

Eu sou livre de pai e mãe

Se de uma desliguei umbigo

Ao outro guardo só respeito

 

Não manda em mim

Quem me preside e age

como se da Idade Média fosse.

QUE SE ARMA SE SUJEITA AO KARMA

Nonato Albuquerque


O desejo incomum de armar-se
é algo que foge à normalidade.
É o resquício do comportar-se
em ambiência de animalidade

Quem busca assim destratar-se
invoca as sombras da idade
mais remota; onde o situar-se
revela somente a negatividade


Os que assim agem, herdaram

Do pai a paixão pelo trágico
Ao apego que têm a uma arma

São elos do ontem que separam
a essência de um ser autofágico
olvidando que isso atrai o karma.

sexta-feira, 12 de março de 2021

O LADO B DA VIDA

 O LADO B DA VIDA

 

Ao chegar do mundo. onde habitei

por décadas em meio a tantas lidas,

na alfândega do céu, eu me deparei

Com a lista de minhas muitas vidas

 

Juro que nunca li, nem nunca andei

em doutrinas que dessem guaridas

a esse conhecimento que hoje eu sei

a gente retoma sempre nas partidas.

 

Há tanta pressa em viver o presente

Que a gente esquece de tirar proveito  

Dos ensinos dos sábios do passado.

 

E é só quando a vida se faz ausente

Que se descobre, agora já sem jeito,

ser a morte o lado B a ser tocado.



Composto às 19h30min de 12,3,21

domingo, 7 de março de 2021

POESIA: O OBOÉ






sexta-feira, 5 de março de 2021

A REVOLTA DOS LIVROS

Por se acharem sozinhos, presos às prateleiras das casas, sem o uso correto pelas pessoas, milhares de livros se rebelaram um dia. E aproveitando-se de uma forte ventania que sacudiu a cidade e os homens, eles foram levados pelas ruas, aos volumes como se devem e acabaram sendo transferidos para um lugar que as pessoas conheciam por biblioteca. 


Lá, eles receberam o acesso de outros muitos livros, que deixavam as livrarias, as residências, os prédios notáveis, onde em estantes e acomodações outras, permaneciam abandonados, sem ninguém que os manipulassem, relegados ao esquecimento nesses tempos em que os antigos leitores os trocaram por novidades tecnológicas. 

Reunidos por cima de mesa, empilhados no chão ou abrindo suas páginas para outros livros, eles passaram a trocar conversas entre si. E era tanto assunto para colocar em dia, sob os mais diversos temas – histórias de homens e bichos, saberes da Ciência e do Humanismo - que amanheceram e anoiteceram abertos, revelando segredos de seus íntimos. 

Foi quando de uma prateleira mais alta, um livro mais volumoso, desceu ao nível dos rebelados e como um mestre que falasse aos alunos, abriu uma de suas últimas páginas onde se conseguia ler: 

“Mas, quando vier o que é perfeito Então o que o é em parte desaparecerá”. 
 Coríntios 1, 13”