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sábado, 27 de agosto de 2011

ALTERNATIVAS PARA UM SÁBADO ASSIM INSANO



O chão da rua
Me mostra pássaros em movimento
Aves singando nos céus
E as sombras delas se projetando no asfalto.
Passo com minhas rodas em velocidade
E nem vejo que andorinhas e pombos
Compartilham o mesmo vôo.
Onde foi mesmo que já vi esse filme?
Estou em vigília e não sonho isso
Embora pareça flashes evocados da noite passada
Quando atravessei o rio das mortes
E me encontrei com entes que já (se) foram
Meus vizinhos e conhecidos de outros dias
Construindo um novo momento
Na dimensão que há depois da vida física.
Enquanto viajo para casa
Dianne Schurr me leva ao passado
E o som das grandes divas do jazz
Me repõem no bar do seu Emílio Calixto,
Onde ouvi pela primeira vez Gershwin,
Enquanto homens jogavam bilhar
E eu desfrutava o meu primeiro ‘doce gelado’.
Acopiara é uma extensão do meu umbigo
Lá se vão seis décadas de meus dias ali
Correndo entre a calçada da Paulino Félix
(hoje redenominada Celso Castro)
E o quintal de cerca de muitas fruteiras.
O cheiro de manga rosa espargindo no ar
O mugido das vacas no curral próximo.
O leite também mugido no caneco de ágate
O padeiro deixando o pão na janela
A ida ao açougue para comprar fígado, às tardes
E a fuga para o matadouro onde os bois
Eram sacrificados na arena armada.
Um dia, a descoberta do nonato na vaca morta,
E a carne retirada, nervosamente se bolindo.
Flashes de memória de quem volta ao passado
E corta um pouco a rotina do hoje.
É preciso, vez em quando, voltar a outros dias
Para compensar a pressa do calendário atual
Que, num átimo, faz dos meses cinzas
Anoitecendo o tempo em nossa pele
E armando peças para a nossa memória.
O tempo é curto; o mundo é pequeno
Mas só Deus é maravilhosamente grande.