Liberdade dos ventos
de Nonato Albuquerque para Francisco Carvalho (in memorian)
Eu tenho a idade longeva das pedras
E o peso acumulado de muitas nuvens.
Faço o caminho nada secreto das águas
Na companhia agradável do silêncio.
Em meu refúgio, as andorinhas hibernam
do cansaço angustiante de muitos voos,
E, solenes, as vacas remoem as horas
que se derramam na paisagem vespertina
Eu sou de mouroes antigos, currais de gado
De ruminantes entardeceres nessa jornada
Marcado a ferro e brasa pelos meus donos.
Um dia qualquer, almejo derrubar as cercas
E ganhar o mundo, para que em outros pastos
Eu venha alcançar a liberdade dos ventos.