A CARTA QUE FICOU DE CHEGAR
Nonato Albuquerque
Nonato Albuquerque
Um homem escreveu uma carta, colocou-a numa caixa dos correios junto a um envelope devidamente selado, mas esqueceu de um detalhe importante: endereçá-la. Tampouco lembrou-se de colocar seu nome no verso para uma futura localização. Ao recolher a correspondência para levá-la à sede da empresa, o carteiro deu de cara com aquele envelope sem destinatário e sem remetente.. Ao tomar ciência do fato, a chefia da repartição resolveu colocá-la no boxe destinado a cartas extraviadas.
Passados dez anos sem que ninguém reclamasse, a direção dos Correios resolveu abrir o envelope a fim de verificar se havia algum meio de identificar o missivista. Tudo em vão. Também a carta não distinguia em seu teor nenhuma pessoa específica, mas a sua mensagem tocou profundamente as pessoas que a leram. Dizia o seguinte:
"A quem vier ler esta carta, seja nesta ou em qualquer outra época, certifique-se bem se ao longo de sua vida alguém não ficou lhe devendo o envio de uma correspondência. Procure lembrar de quem viajou e ficou de escrever; de um amigo ou parente que lhe prometeu dar notícias por onde passasse; de uma pessoa muito querida que roubou seu coração e ficou de devolvê-lo, pelo menos, em fatias de luz através das palavras.
"Pare de ler esta carta agora e coloque sua mente para funcionar. Procure sinceramente lembrar-se qual a carta que nunca chegou às suas mãos? Quem é a pessoa que está em falta com você?... Pare e pense!
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"Pois bem, eu sou essa carta que, um dia, deixei de chegar ao seu destino. A ética dos funcionários dos correios não permitiu que me abrissem, mas como tudo tem um tempo, esse dia do reencontro chegou. Venho às suas mãos lhe pedir mil desculpas pelo atraso; perdão pelos transtornos e sofrimento que, provavelmente, eu deva ter provocado. Mas se você está me lendo agora é porque conseguiu resistir a tudo aquilo e, melhor do que isso, conseguiu sobreviver para ler esta que é uma carta de despedida.
"Sim, estou me despedindo porque agora que você sabe o quanto custa a espera, não demore a me colocar de novo no correio. Coloque no envelope o nome e o endereço da pessoa que você mais gosta no mundo e, que sem dúvida, ficará feliz de me receber a fim de contar-lhe que você conseguiu passar até aqui por todas as provas e dificuldades da vida, que está de pé acreditando na esperança como a grande força de ajuda, certo de que o "destino" tem sempre uma lição boa para nos dar. "Por favor, coloque-me num envelope ou mande-me num e-mail. Destine-me a quem você tem realmente afeto; deixe-me voar outra vez para a alegria de outras mãos e olhos que indicarão outros e mais outros destinatários a fim de que eu possa testemunhar a todos o quanto você é, foi e será feliz na vida que atualmente carrega".
(Texto de Nonato Albuquerque em Antena Paranóica)