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domingo, 17 de novembro de 2019

FORTALEZA SAUDADE

(in memoriam à Jáder de Carvalho)

o olhar de menino do interior, 
que a cidade alcovitou um dia 
adormeceu uma paisagem 
de terra, água, amor e muito mar.

no porto onde naus descansam 
meu olhar desejou ser um navio 
e singrar os sete mares do mundo 
sem choro, medo e sem adeuses. 

Não ia dizer nada a minha mãe 
que desligado o meu umbigo 
mantém aprisionado meu coração 
com receio desse meu outro destino 

Nas areias do Mucuripe, flagro 
ainda o menino já descalço 
à sombra de um carvalho nome 
poetando versos, vozes e (en)cantos 

Um dia, eu navio de mim mesmo 
velejei no mar da Vida a outro porto 
oonde vim jornalistar esse outro lado 
que é o lado de lá, do lado mar. 

o céu que os padres me vendiam 
é lugar de trabalho, sem descanso
sem necessidades de indulgência 
nem petitório aos protetores santos.

Náufrago dessa enseada de luz 
vejo surpreso, navios já cansados 
atracarem neste porto, sem aviso
aos lenços em aceno de saudades. 

Que a terra bárbara onde eu vivi 
um tempo bom, bom tempo tenha;
e que o farol do mediúnico estafeta
brilhe com essa fortaleza saudade.