RENASCIDO EM DORES
Nonato Albuquerque
Caminhante eu, era de outroras eras,
Entre bárbaros sequazes, vilões cruéis
A destruir sonhos, ideais, quimeras,
Por conquistas vãs, parcos lauréis.
Imaginava com assédio dessas feras,
O ideal: sagrar-me rei de antigos infiéis.
Arrostava sob o guante das esferas
Do mal, a sanha indomável dos corcéis.
Desolados corações deixei à passagem
Da horda sedentária, ruminei plagas,
A bramir ódio sob todos estertores.
Em armadura de carne e na voragem
Do tempo, me vi; corpo repleto em chagas
Para cumprir a Lei, renascido em dores.
(Inspirado em Jésus Gonçalves)
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NOVAS
SAGAS
o fogo que arde em mim é de chamas antigas
que nunca debeladas foram em meu espírito;
de eras tirânicas, de pátrias que eram amigas
e que séculos passados, carrego ainda contrito.
a dor dessa vingança já me cobriu de escamas
em vida atormentada que só me trouxe atrito.
fui déspota de cavalheiros, crápula de damas
em busca de resposta ao meu íntimo adstrito
transpus séculos em corpos, vidas malsinadas,
percorri a nobreza, me embriaguei na vilania
para renascer pobre, coberto de muitas chagas
hoje, conhecedor do que fui em épocas passadas
agradeço a Jesus, essa bendita alquimia
de mudar o passado e futurar-me em novas sagas.
(Inspirado em Jésus Gonçalves)
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DE SEMENTE
DAS SOMBRAS, ÀS FORÇAS DE LUZ
Nonato Albuquerque
Antes, ator de
infortúnios e de conquistas,
menti, matei, saqueei; por ideais profanos.
Hoje, em meio a seres de mentes altruístas,
apodreço entre os humildes hansenianos.
Antes, a lâmina do
horror decapitava tiranos
ante o tropel de bárbaros quatrocentistas.
Hoje, ressurecto à vida, após malgrados anos,
somatizamos dores de passados egoístas.
As faixas de carne
que encobrem o que fomos
são elos da misericórdia divina e de mudança
de semente das sombras em forças de luz.
O hino de amor que,
na Terra, hoje compomos
É a certeza dessa consoladora esperança
De que não nos abandona, o amor de Jesus
(Inspirado em Jésus
Gonçalves)
O DESIDERATO DA LEI
Diante do cavaleiro
audaz que, intrépido, avança
as armas contrárias
da defesa logo se desfazem.
Sob os cascos dos
corcéis corpos muitos jazem,
nos caminhos do
mundo, por onde a dor se lança.
Rastros de ódio
enxameiam o solo, onde fazem
a cruzada maldita do
medo, sem dar esperança
a que ninguém
sobreviva; a nada se comprazem.
Selam um pacto de
ódio, no reino da vingança
Os anos voam, os
corpos mudam e, nesse limiar
de eras novas, veem-se
os loucos transmutados
em outros seres,
tomados por pútridas feridas.
É que as bênçãos dos
céus vêm a todos cobrar
a dívida contraída a
outros em dias já passados
Para que se cumpra o
destino da lei em outras vidas.
Inspirado em Jésus
Gonçalves
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CHAGAS
SANTAS
Do infinito
mundo, onde as almas vigiam dores
venho lembrar-te
o compromisso arcado antes
de renascer no
mundo para fortalecer amores
onde forem teus
passos com outros caminhantes
retoma os caminhos
sagrados, embora distantes
estejam as flores
do bem, a derramar olores
mas que na
esperança há de fortalecer amantes
hás de achar
e renovar no mundo novos valores
Se antes arrostávamos
sob o guante da miséria
O grilhão da
impiedade, alimentando a morte
É que éramos
feras sem a docilidade das aves
Foi preciso
arcar com a dor de forma deletéria
para que chagas
santas dessem o passaporte
a novas
claridades, como a de Jésus Gonçalves.
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Ante a
luxúria aviltante, a seda, o ouro, o vinho
que a vida
nos logrou em passados remotos
avultou-se
na contabilidade da alma, o escarninho
ao que promulga
a lei, contra ações e atos ignotos.
Nos gestos e
nas palavras nossas, o descaminho
Ao cumprimento
do bem, anulando os votos
Sagrados da
amizade, a ponto de se ver sozinho
Ao fim da
vida física, sem seus reais devotos.
É que morte tem
feito sempre a sua colheita
onde nos
nivelamos no túmulo, mas que a alma
se
diferencia quando o juízo final se intermedia.
se fomos
detratores da Vida, a vida nos sujeita
a viver novamente,
em busca de mais calma
até que a Lei
se cumpra, com toda a primazia.
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De ódios
estocados, meu coração se fez
Um órgão doentio,
sem remédio ou cura
Travo de rancoroso
passado, onde talvez
Nenhum respeito
tive a nenhuma criatura.
Os inimigos
muitos, mandei-os a sepultura
Arrasei
famílias, com a minha mesquinhez
Ensandecido brami
a espada com loucura
E a quantas mães
eu antecipei a viuvez.
A morte me
recolheu e em meio às trevas
Descobri em
mim o propalado inferno
Onde a mente
guarda essa mísera lembrança
Anos se
passaram desde as fases medievas
E eu voltei
por concessão do senhor Eterno
A renascer em
busca de novas esperanças.
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DOM 22 DE AGOSTO DE 2021
Animal
ensandecido, que fui em priscas eras.
Ainda que humano,
cristalizei na minha alma
Um selo de
odientas marcas que só as feras
Se há de
permitir quando lhes falta a calma
Violentei humanas
vidas e impus leis austeras
Ao comando que
detonava minha direita palma
Obediente às
vozes insanas de outras esferas
A compactuar
comigo a formação de um trauma.
Negociei com
a vilania tirânica dos estertores
Depus de mim
a crença de que múltiplas vidas
Nos permitem
lobrigar nas sombras ou na luz
Tempos depois,
resolvido a carpir todas as dores
Renasci no
Brasil, entre as chagas mais doridas
Para compreender
melhor o que ensinou Jesus.
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