Nas vagas noturnas, por onde o mar ressoa,
a nau dos infelizes avança, ganha espaço
transporta ao horizonte de uma nova coroa
vidas roubadas à custo de cutelo e baraço.
Da África berço mãe, que é o seu leito regaço,
os filhos dessa terra em galés se amontoa
respirando o acre do azedume e do bagaço
que lhe servem de alimento na líquida insoa
Quem de haveres do passado, essa lembrança
guarda para refletir no outro lado do espelho
que a roda do tempo, em outros dias, deslinda?
Os donos desses escravos hoje estão na dança
que as vidas mal vividas recebem a conselho
de resgatarem o mal feito por essa dívida ainda.
CC / 3.5.23