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domingo, 21 de maio de 2023

UMA FORTALEZA SAUDADE

 UMA FORTALEZA SAUDADE

Por Nonato Albuquerque 

(in memoriam à Jáder de Carvalho)


O olhar de menino do interior, 

que a cidade alcovitou um dia 

adormeceu uma paisagem 

de terra, água, amor e muito mar.

No porto onde naus descansam,

meu olhar desejou ser um navio 

e singrar os sete mares do mundo 

sem choro, medo e sem adeuses. 

Não ia dizer nada a minha mãe,

que desligado o meu umbigo,

mantém aprisionado meu coração 

com receio desse meu outro destino.

Nas areias do Mucuripe, flagro 

ainda o menino já descalço 

à sombra de um carvalho nome 

poetando versos, vozes e (en)cantos. 

Um dia, eu navio de mim mesmo, 

velejei no mar da Vida a outro porto 

onde vim jornalistar esse outro lado 

que é o lado de lá, do lado mar. 

O céu que os padres me vendiam 

é lugar de trabalho, sem descanso,,

sem necessidades de indulgência, 

nem petitório aos protetores santos.

Náufrago dessa enseada de luz 

vejo surpreso, navios já cansados 

atracarem neste porto, sem aviso

aos lenços em aceno de saudades. 

Que a terra bárbara onde eu vivi 

um tempo bom, bom tempo tenha;

e que o farol do mediúnico estafeta

brilhe com essa fortaleza saudade.