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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Sol no interior das almas

eu vejo o dia botar cor na manhã raiada;
derramar ouro por entre nuvens e calçadas;
com o vento a sacudir os cabelos das árvores.
É o sábado pedindo para se fazer presença.
Em meio à expectativa de nova caminhada.
Corre um burburinho nas ruas de gente miúda
zoando com outras, entre risos e brincadeiras,
que só os infantes conseguem ambientá-las.
Ao lado delas, amadurecidos de problemas,
Velhos se dirigem lentos à praça do Ferreira,
onde desmiolam conversas de outros tempos,
Porque o hoje, para eles, está aos pés do abismo.
Nos ônibus lotados vai gente pro trabalho,
ensimesmada em seus smarts e celulares.
Um pregador prega a dor de um Cristo imolado
E promete os céus a quem o servir na Terra.
O dia nasceu. A bola de ouro corre pelos céus
com sinal de vida e luz por toda essa cidade.
Eu aqui, com meus botões do notebook,
certifico que, também, há sol no interior das almas.

Apostas atraem esperança

APOSTAS ATRAEM ESPERANÇA
Nonato Albuquerque 29 julho 2014
É fato comum, entre os que fazem jogos de azar ,
apostarem na sorte que a outros ela bafeja;
e com essa ditosa glória de milionário, sonhar.
em ganhar o prêmio, qualquer valor que seja
Na verdade, as loterias dão ao homem um ar
de grandeza; de serem tudo o que se almeja
Afinal, até a hora do sorteio, vive-se a planejar
o sonho de ser no mundo, aquilo que se deseja
quem joga, aposta mesmo é na força venturosa
que é motivadora em nós dos grandes ideais
e que na Terra a todo ser humano alcança
Até o dia do sorteio, vive-se uma vida cor de rosa,
fazendo planos que o jogo alimenta mais,
com o bem que todos chamamos esperança.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

RETRATO FALADO DE UM HOMEM CHAMADO JESUS

 Por Nonato Albuquerque em ARTIGO

 02 de Abril de 2015

Um excluído, cidadão de uns 33 anos, é preso, torturado e executado de forma arbitrária. Seu julgamento durou menos de 24 horas, entre a prisão e a morte, assistida por dezenas de pessoas. O crime pelo qual foi condenado não ficou bem definido. Há suspeitas de que ele vivia à margem da lei. Que pregou uma nova ordem social, na qual as pessoas deveriam viver no Bem, na Esperança e na Caridade.
Ousado, ele chegou a incitar as multidões a abandonarem os vícios e as maldades do ódio e da violência. Seus algozes o acusaram de andar em bando, com uma espécie de gangue que chegara a danificar um templo religioso, expulsando os comerciantes que, segundo ele, assaltavam o consumidor no peso e no no preço.
Preso pelas milícias oficiais, depois de várias tentativas frustradas, esse homem quase foi linchado pela multidão, a qual ele assistiu durante três sucessivos anos, ensinando regras de comportamento ético e de uma vida saudável para o corpo e para o espírito.
Foi a ajuda de um integrante de seu grupo, por meio do expediente da delação, que deu à polícia a chance de localizá-lo. Sua prisão não obedeceu a nenhum critério da lei ou respeito aos direitos humanos.
Sua identidade é bastante conhecida, mas há em torno dele um grande mistério. Partidários e até inimigos são unânimes em garantir que ele sempre se portou em favor dos pobres, doentes, assassinos, prostitutas e miseráveis, tendo anunciado a Justiça em defesa dos oprimidos.
Esse homem, sem residência fixa e cujo destino todos ignoravam, costumava atrair multidões às praças e aos logradouros onde pregava lições que jamais foram ouvidas da boca de alguém: o dever de amar os inimigos; esquecer pai e mãe para segui-lo; a promessa de um lugar no paraíso para os pobres de espírito; a igualdade dos povos e a sua filiação divina; a crença de que todos somos deuses, além de buscar fazer pelo outro aquilo que desejaríamos que nos fizessem.
Preso, torturado e executado em via pública, num local denominado Morro da Caveira, esse homem mereceu o registro maior de todas as violências.
Seu nome: Jesus.
Seu crime: ter amado a humanidade.
Texto de Nonato Albuquerque

sábado, 18 de julho de 2020

CAUSA E EFEITO

Sêo Neco de nhá Vicência,
nascido no pé de serra,
vei limitado pra guerra
dessa atual existência

Vei sem as mãos, o coitado
Pru mode atender pedido
de um erro adormecido
que ficou lá no passado.

Sinhô raivoso, pachola
Se apegou só ao dinheiro
e morreu na maió misera

Hoje, vive de esmola
Pra dar conta do herdeiro
Que manietou noutra era.

(inspirado em Cornélio Pires)

sexta-feira, 17 de julho de 2020

NADA SE PERDE, TUDO SE TRANSFORMA


Fujão na mata, o escravo então liberto
Sente a necessidade de ausentar-se
e de coragem poder assim armar-se
para mostrar a outros, o rumo certo

vaga sem destino, por caminho incerto
medo de no encalço, vir a deparar-se
com capitão do mato para entregar-se
e voltar à senzala, fosse ele descoberto

um estampido se ouve, vindo em sua banda
o escravo cai e com enorme estranheza
se vê fora do corpo em uma outra forma.

Ao seu redor irmãos da antiga Luanda
A provarem a lei pétrea de toda Natureza
De que nada se perde, tudo se transforma.

OUTRO PÓDIO



Éramos bichos em figura de gente
Trancafiados em porões de navio
Vendidos por nada, vidas por um fio
Atados a grilhões de uma corrente

Vínhamos de longe, outro continente
A chorar nossas mágoas, no desvario
De um desencontro mais sombrio
Apartando nossa raça, nossa semente

Como animais fomos assim tratados
Por senhores de baraço e cutelo
A impor sobre nós sua raiva e ódio.

O tempo mudou e hoje transportados
A outra plagas, vemos que o flagelo
Da escravidão repousa em outro pódio.

sábado, 11 de julho de 2020

O ESPETACULAR CIRCO DA VIDA

A vida é um circo onde o palhaço sempre paga mico onde o trapezista vive em corda bamba pra se mostrar artista onde a bailarina tem que sempre ter corpo de menina que o engolidor de faca no fim da função não saia de maca e que todo mágico não termine a cena em um número trágico que no picadeiro o domador de fera seja seu guerreiro que o malabarista faça em seu ofício nada tão simplista e num bom vernáculo que o circo da vida seja um espetáculo e nessa conversa o circo parece a vida e vice-versa

quarta-feira, 1 de julho de 2020

A lua na poça d'água

eu sei que, à noite, todos os gatos são pardos;
mas o que mais me inspira é ser da noite, a lua
que traça, ininterrupta e sempre, a mesma rota
como se tudo nos céus fosse de um mesmo hábito.

também entendo bem que a noite é uma criança,
mas nada disso me faz perder meu sono e sonhos.
eu vivo é da ilusão de não ser, de crer que não sou,
além do que eu sinto e do que eu desejo mais ter.

por isso, eu abro sempre a janela do meu computador
e escancaro bem o que o mundo mais parece ter:
rostos, marcas, palavras, imagens, sinais... fotografias.

eu sou parte desse tempo em que todos se inscrevem
para eterna idade, ainda que ninguém busque ver lá fora
o brilho da lua refletido na poça dágua sobre a rua.

NONATO ALBUQUERQUE