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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Longinus


Entre as narrativas do Cristo, contadas pelo apóstolo João no Novo Testamento, a que diz respeito ao soldado romano ferindo o peito do nazareno, ressoa até os dias de hoje em nossa mente, como o gesto que contribuiu para a morte do salvador.

Não se tem como afiançar a real identidade do centurião, já que a lança da soldadesca romana era conhecida como ‘longinus’. E daí viria a expressão.

Como numa equipe médica em que o cirurgião faz a citação dos objetos a serem utilizados no procedimento – “o bisturi” – ‘longinus’ era a referência do comando da tropa para aquele soldado que detinha essa arma, usada na maior parte das vezes para infringir aos réus a pena letal que era a quebra das pernas pela chamada prática da ‘crunifragium’.
“Longinus” apelou o chefe da tropa ao que o soldado se apressou a fazer a sua parte. Porém, como a vítima já havia falecido, resolveram trespassar o peito da vítima, de onde um jorro de sangue e água brotou, fazendo com que salpicasse no rosto do centurião.
O jato aquoso caído sobre os olhos, por instantes, anuviou a sua visão e ao recobrá-la notou suave emanação de luz que percorria a extremidade da lâmina de aço.

A vida desse homem nunca foi a mesma. Sua lança passou revelar uma inexplicável luminosidade, a cada instante em que, nela, repousavam seus olhos.

O martírio do homem santo, como o mundo assim o reconheceria, deixara nele uma forte impressão de que cometera um erro, ferindo o tórax de Jesus.

Impactado pela cena, Longinus carregou enorme enorme trauma por todos os dias terrenos e, após uma completa mudança de comportamento, ele fora convocado para compor o exército do Cristo, trabalhando na sua falange de auxiliares.

A lança que abrira o peito do inocente sacrificado e ajudara a encerrar sua vida terrena, abrira naquela alma amargurada uma profunda e grande mágoa.  Foram precisas muitas existências e o ressarcimento de suas dívidas para que o centurião reconhecesse que a lança que abriu o peito de Jesus, atingiu o coração de um homem a quem tantos rogam, hoje em dia, pela intercessão de encontrar objetos perdidos