UMA FORTALEZA SAUDADE
Por Nonato Albuquerque
20 de novembro de 2019
(in memoriam à
Jáder de Carvalho)
o olhar
de menino do interior,
que a
cidade alcovitou um dia
adormeceu
uma paisagem
de terra,
água, amor e muito mar.
No porto
onde naus descansam,
meu olhar
desejou ser um navio
e singrar
os sete mares do mundo
sem
choro, medo e sem adeuses.
Não ia
dizer nada a minha mãe,
que
desligado o meu umbigo,
mantém
aprisionado meu coração
com
receio desse meu outro destino.
Nas
areias do Mucuripe, flagro
ainda o
menino já descalço
à sombra
de um carvalho nome
poetando
versos, vozes e (en)cantos.
Um dia,
eu navio de mim mesmo,
velejei
no mar da Vida a outro porto
onde vim
jornalistar esse outro lado
que é o
lado de lá, do lado mar.
O céu que
os padres me vendiam
é lugar
de trabalho, sem descanso,,
sem
necessidades de indulgência,
nem
petitório aos protetores santos.
Náufrago
dessa enseada de luz
vejo
surpreso, navios já cansados
atracarem
neste porto, sem aviso
aos
lenços em aceno de saudades.
Que a
terra bárbara onde eu vivi
um tempo
bom, bom tempo tenha;
e que o
farol do mediúnico estafeta
brilhe
com essa fortaleza saudade.