Por se acharem sozinhos, presos às prateleiras das casas, sem o uso correto pelas pessoas, milhares de livros se rebelaram um dia. E aproveitando-se de uma forte ventania que sacudiu a cidade e os homens, eles foram levados pelas ruas, aos volumes como se devem e acabaram sendo transferidos para um lugar que as pessoas conheciam por biblioteca.
Lá, eles receberam o acesso de outros muitos livros, que deixavam as livrarias, as residências, os prédios notáveis, onde em estantes e acomodações outras, permaneciam abandonados, sem ninguém que os manipulassem, relegados ao esquecimento nesses tempos em que os antigos leitores os trocaram por novidades tecnológicas.
Reunidos por cima de mesa, empilhados no chão ou abrindo suas páginas para outros livros, eles passaram a trocar conversas entre si. E era tanto assunto para colocar em dia, sob os mais diversos temas – histórias de homens e bichos, saberes da Ciência e do Humanismo - que amanheceram e anoiteceram abertos, revelando segredos de seus íntimos.
Foi quando de uma prateleira mais alta, um livro mais volumoso, desceu ao nível dos rebelados e como um mestre que falasse aos alunos, abriu uma de suas últimas páginas onde se conseguia ler:
“Mas, quando vier o que é perfeito
Então o que o é em parte desaparecerá”.
Coríntios 1, 13”