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segunda-feira, 17 de junho de 2019

Báratro de dor

eu ouço anjos 
nas vozes dos meninos, aquietando silêncio. 
Nas preces dos que nada pedem a Providência
na alegria de quem não guarda mágoa alguma 
de quem lhe tirou o pão que lhe sacia a fome. 

eu vejo santos
na sagrada inocência de adultos que, virtuosos, 
não se arvoram em reclamar alguma prioridade 
e na fila dos comensais aguardam tranquilos 
a boia anunciada pelo profeta para os fins dos tempos. 

quem tem poder  
de separar o joio desse trigo que abunda nas ruas 
e que, nos lares esvaziados, consomem-se todos
no aguardo da promessa crística de alçar ao paraíso. 

a vida é longa
para a brevidade da existência que nos dá a matéria 
a fim de afugentar os miasmas de outras jornadas 
feitas a fogo e ferro, no báratro de dor que é a Terra.