Texto de Nonato Albuquerque
Na centenária Pérsia de outros tempos, um velho ladrão, analfabeto, chamado Idah Amir, caíra certa feita nas garras da soldadesca, acusado que fora de subtrair dezenas de bagres que estavam à venda no mercado.
Na prisão, os colegas de mesmo infortúnio gozaram com a falta de sorte e a "incompetência" do inditoso ladrão em só roubar peixes. Disposto a responder ao que classificou como ofensa e desafio, Idah prometeu aprimorar seus métodos no que dizia ser a arte do crime. Tão logo fosse liberado, daria um golpe tão majestoso que o faria ser citado para sempre pelas terras do Oriente.
A promessa se cumpriu. Num dia aprazado, em verdade noite de lua cheia, Idah deu trelas ao seu projeto. Elegeu um dos prédios mais vistosos da belíssima jóia que era Bagdá e resolveu penetrar no que lhe diziam ser a biblioteca pública da cidade. Contudo, mal adentrara no recinto, fora flagrado pelo eficiente serviço da segurança real, sendo capturado.
Conduzido de volta aos porões da antiga prisão, o velho ladrão de bagres revelaria aos companheiros de cela que, mais uma vez, a inditosa amiga sorte se dispersara dele, fazendo por isso cometer um grave erro de estratégia ao escolher aquela vistosa construção.
- Pelas barbas do profeta! Naquele prédio enorme num tem nada, nada, nada de valor. Só tem livros! Meu sonho é voltar a agir no mercado.
Sem ter noção nenhuma da riqueza encrustada na leitura, a cabeça de Idah era bagre só..