A PARÁBOLA DO GIRASSOL REBELDE
Nonato Albuquerque
No reino dos girassóis,
todas as flores têm por dever de ofício,
saudarem o astro-rei quando acende ele
sua roda de fogo nos céus.
Um dia, porém, um girassol mais novo
negou-se a se curvar perante o Sol
por achar naquele simples gesto,
um ato de profunda humilhação.
Algumas flores próximas a ele,
intentaram seguir o mesmo caminho.
A maioria dos girassóis, comentou
ser essa uma atitude descortês.
Todos tinham a consciência
de que era da energia do soberano astro
que o mundo dos girassóis se nutria.
E dela, a colheita se beneficiava.
A rebeldia súbita daquela flor,
certamente, atrairia respostas.
Indesejáveis que fossem. E elas vieram
bem muito antes do que se esperava.
Na manhã seguinte, a flor rebelde do campo,
amanheceu murcha, sem vida,
com a haste estendida para o chão.
Sua queda arrastou algumas próximas.
A Natureza tem leis imutáveis.
Se temos a liberdade de arbítrio,
é certo, porém, atrairmos os efeitos
de nossos próprios infortúnios.
Não é que o cosmos nos castigue,
mas o oceano de luz que conduzimos
ao perder a ligação com o imensurável,
isola-se do núcleo que emana força e luz.
Quando nos desobrigamos a cumprir a lei
do que diz ser correto o modo de vida
imantamos em nós as forças negativas
que passam a nos dizimar internamente.
Quando fugimos ao nosso dever consueto,
ou impomos regras equivocadas ao eu,
abrigamos o abismo em nossos corações
fugindo ao nosso destino, as estrelas.
Quando esquecemos de tributar à Deus,
nossa gratidão por cada dia que surge
permutamos o 'sapiens' da sabedoria,
pelo homo-deus que é o nosso inimigo ego.