Grande é a bondade do Eterno e infinita a sua misericórdia.
Sobre isso,
conta-se que no Oriente antigo, na acolhedora cidade das palmeiras em que se
transformara Jericó, era acerba a disputa de ideias religiosas e angustiante se
fazia a intolerância de seus contendores. Nela, o velho Melquer, aplicado às
vendas de candeias no mercado, se portava como sábio entre os que alimentavam
as querelas da terra e discutiam os mistérios indecifráveis do céu.
A última
delas dizia respeito a exigência de orar, sempre voltado para a Meca, atendendo
a um preceito muçulmano. Para isso, todo fiel seguidor devia usar uma bússola como
guia ou observar a posição do sol no tapete, enquanto repousava sua fronte na
pedra de karballah.
O velho Melquer
destoava de todas essas dogmáticas exigências. Orava com o rosto levantado
para o alto, batendo no peito e fechando os olhos ao mundo exterior. A quem o
condenava dizendo que ele insultava os ofícios do sagrado, por não buscar a orientação da honrada Meca, respondia paciente:
- O Eterno
vive no mais alto dos céus. Mas Ele é tão abundantemente misericordioso que se permite
mergulhar no profundo poço dos nossos corações. Por isso, alimento a minha
prece dirigindo meu pensamento ao distante mais distante, mas que misteriosamente convive nas cercanias mais próxima do meu eu. Porque o Inacessível e o Inalcançável tem
o dom de operar seu poderoso ofício nas nas cumeeiras mais altas do firmamento, mas Pai amante dos seus filhos, sempre elege para repouso o colo sagrado de nossa alma.