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segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Melquer e o mistério do sagrado altíssimo


Grande é a bondade do Eterno e infinita a sua misericórdia.

Sobre isso, conta-se que no Oriente antigo, na acolhedora cidade das palmeiras em que se transformara Jericó, era acerba a disputa de ideias religiosas e angustiante se fazia a intolerância de seus contendores. Nela, o velho Melquer, aplicado às vendas de candeias no mercado, se portava como sábio entre os que alimentavam as querelas da terra e discutiam os mistérios indecifráveis do céu.

A última delas dizia respeito a exigência de orar, sempre voltado para a Meca, atendendo a um preceito muçulmano. Para isso, todo fiel seguidor devia usar uma bússola como guia ou observar a posição do sol no tapete, enquanto repousava sua fronte na pedra de karballah.

O velho Melquer destoava de todas essas dogmáticas exigências. Orava com o rosto levantado para o alto, batendo no peito e fechando os olhos ao mundo exterior. A quem o condenava dizendo que ele insultava os ofícios do sagrado, por não buscar a orientação da honrada Meca, respondia paciente:

- O Eterno vive no mais alto dos céus. Mas Ele é tão abundantemente misericordioso que se permite mergulhar no profundo poço dos nossos corações. Por isso, alimento a minha prece dirigindo meu pensamento ao distante mais distante, mas que misteriosamente convive nas cercanias mais próxima do meu eu. Porque o Inacessível e o Inalcançável tem o dom de operar  seu poderoso ofício nas nas cumeeiras mais altas do firmamento, mas Pai amante dos seus filhos, sempre elege para repouso o colo sagrado de nossa alma.