A campanha eleitoral do segundo turno de 2018, devido a polarização e ao discurso de ódio que as partes acabaram convertendo, levou-me a escrever textos curtos nas redes sociais (Facebook), alertando sobre os riscos de ingressarmos em um ambiente ainda mais hostil e indesejável. Aqui estão alguns deles.
ISSO NÃO VAI
ACABAR BEM (1)
ACABAR BEM (1)
Quando católicos e evangélicos na velha Irlanda começaram aquele
perrengue danado, por disputas de cunho religioso, algum deles de bom senso
deve ter dito: isso não vai acabar bem. E foi o que aconteceu: o país se dividiu
em Irlanda do Norte e Irlanda do Sul.
Quando judeus e palestinos
começaram a trocar insultos e pedras de baladeiras, um goy qualquer deve ter
profetizado: isso num vai terminar bem. E veio a guerra dos seis dias.
Quando anarquistas e comunistas
se desentenderam com a ditadura franquista, partisans dos dois lados
acreditaram que aquele regime não daria certo. E a guerra civil confirmou a
previsão.
Quando os alemães do nazismo
adentraram às casas de judeus e começaram a removê-los de suas estâncias,
obrigando-os a viverem em guetos, num ‘shabat’ qualquer da história, algum
rabino deve ter anunciado: isso vai acabar mal. E vieram os campos de
concentração e a ideia de Heinrich Himmler implantando a chamada solução final.
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ISSO NÃO VAI
ACABAR BEM (2)
ACABAR BEM (2)
Quando na década de 70 do século XX, a família al-Assad começou
um regime ditatorial na Síria - que persiste até hoje - e, do ponto de vista
religioso, os xiitas impuseram uma carnificina contra curdos e cristãos, um
membro da igreja Maronita alertou: Isso não vai acabar bem". E não acabou.
Hoje, a guerra na Síria já
ultrapassou um total de 470 mil mortes segundo o Observatório Sírio de Direitos
Humanos e obrigou mais de 11 milhões de pessoas a sair de suas casas, buscando
como refugiados lugares no mundo.
Quando retornou dos EUA depois de
governar a ilha de Cuba, Fulgêncio Batista não aceitou perder as eleições em
1950 e aplicou um golpe em 1952. O jornalista Jules Dubois teria comentado com
amigos: isso não vai acabar bem. E redundou na derrubada de Batista e o
surgimento da ditadura de Fidel Castro, cuja sombra ainda persiste até hoje.
Quando o jornalista Benito
Mussolini cria o movimento político intitulado "fascismo", sem nenhum
aparato teórico abrangente, impõe uma luta contra a democracia. Membros da oposição
chegaram a alertar: isso não vai acabar bem. E o movimento revelou-se xenófobo,
preconceituoso, além de operar com o conluio de grandes empresas, negando
direitos e liberdades fundamentais para se torar o poder executivo absoluto.
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ISSO NÃO VAI
ACABAR BEM (3)
ACABAR BEM (3)
Quando Sansão confidenciou à
Dalila onde residia a sua força e poder - referindo-se à mente e não aos
cabelos como tradicionalmente se popularizou dizer -, a irmã dela comentou:
"isso não vai acabar bem". Resultado: veio o poder, a tortura, a
cegueira de Sansão e ele sucumbiu no templo e no tempo, com as forças do
império do terror.
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ISSO NÃO VAI
ACABAR BEM (4)
ACABAR BEM (4)
Quando souberam da prisão do Cristo, após a celebração da páscoa
com os apóstolos, Maria de Cuza e Maria de Magdala, acorreram às pressas ao
palácio imperial na tentativa de saber o que estava acontecendo.
Na ocasião, Pilatos fazia um
plebiscito, a fim de que o povo votasse em quem desejava eleger para liberdade:
Barrabás, o furioso detento que elegera o ódio e a violência como meta de vida,
ou a Jesus, o primoroso educador que aclarava mentes e corações com seus ensinos.
Ao saber da escolha do povo pelo primeiro, Maria de Cuza sentenciou: “isso não
vai acabar bem”. E foi o que deu.
Traído por 30 dinares, Jesus foi
submetido a um regime de força dos que diziam agir em nome de Deus "acima
de tudo", mas que operavam sob as ordens da opressora política romana.
Preso, torturado, escorraçado nas
ruas, sob o flagelo da cruz imposta pela guarda pretoriana e sob os apupos da
multidão ignara, o nazareno - que aos 13 anos deixara a cidade e família para
se preparar para sua missão terrena -, viveu trágica paixão e morte, decretada
pelo farisaísmo da época e pela escolha a partir da falta de senso de um povo.
2 mil anos depois, ninguém lembra
de Barrabás. De Jesus, porém..
ISSO NÃO
VAI
ACABAR BEM
(5_
Quando Monteiro
Lobato, por volta de 1926, escreveu nas páginas do A Manhã, artigo criticando a
posição do Brasil em não deixar aportar no Rio um navio comercial russo, com
receio de que a ideia nova do comunismo pudesse acabar infectando a população
brasileira, o autor recebeu intimação para comparecer à delegacia e dar
explicações sobre o seu posicionamento. A esposa Mariinha confessou-lhe: “isso
não vai acabar bem”.
Lobato
escreveria depois: “Fiz o testamento e fui. Dei com um moço fino, muito longe do
truculento Javert que esperava encontrar no posto”. O delegado era fã de seus
artigos e, confessa ao autor que recebera “ordens de cima” para apreender seus
livros; mas não o faria. Os que mandavam as “ordens” receavam, como nos dias de
hoje, o comunismo.
Dias
depois, Monteiro Lobato voltaria ao caso do navio proibido de atracar nos
portos brasileiros indo para a Argentina, escrevendo: “(a ideia comunista) não
infeccionou coisa nenhuma. Só serviu para abrir o apetite àqueles povos e lhes
inocular o desejo de ter a sua visão pessoal da difamada Rússia”.