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terça-feira, 16 de outubro de 2018

O 'RUH' DOS VIAJANTES DO DESERTO

O 'RUH' DOS VIAJANTES DO DESERTO
Muita gente comentou o caso do homem bom que deixava alimento e água pelo caminho onde costumeiramente passava para servir de alimento aos viajantes. Pois bem, tem ainda uma outra história dele que é preciso ser contada para que saibamos como se operava a grande virtude desse ‘fellahin’.

Houve um dia que, ao passar por uma cidade, viu-se diante um mendigo que dormia ao relento, com o peito nu ao rigor dos ventos alísios. Pessoas que passavam pelo caminho, pareciam não sentir sua presença, pois que a indolência às necessidades do outro, costuma cegar os indivíduos. 

O homem bom tirou suas vestes de pele de camelo e as colocou calmamente ao lado do mendigo, retirando-se depois de forma silenciosa para não perturbar o seu sono. 

Ao chegar em casa sem as vestes, alguém lhe interpelou se havia sido arrestado por um algum nômade do deserto, ao que ele respondeu: “Não, o profeta deixou-me alguém necessitado em meu caminho e cumpri a ordenança de Alá, meu senhor e meu guia.

O tempo mudou as folhas das tamareiras; varreu a areia dos cumes do deserto e embranqueceu as têmporas do homem bom. Seus movimentos eram mais metódicos. Sua vista ganhara uma certa opacidade. Enxergava menos do que antes, mas o bastante para testemunhar naquela noite, o estranho que adentrou a sua tenda, vestindo uma túnica luminosamente bela.

“Quem adentra a minha tenda e com que razão me vem” indagou o homem bom. Ao que a voz respondeu: ‘Eu sou o mensageiro de Alá que me travesti de mendigo a fim de testar se a bondade ainda espaceia o coração dos homens. 

Durante muitos dias fiquei naquele local, vendo passar as caravanas do povo das tendas, sem que nenhum deles desse pela minha presença. E tu, grande alma, significaste com teu gesto, a salvação de muitas vidas que seriam varridas pelos ventos justiceiros de Alá. Maktub!

E convidou o homem bom a sair de sua tenda para adentrar, lá fora, nos campos luminosos do infinito. O homem bom se tornou um ‘ruh’, espírito que no deserto guia os caravaneiros que se perderam pelo caminho.

(Histórias do homem bom- Nonato Albuquerque)