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quinta-feira, 9 de junho de 2022

QUANDO CRUZARES O STYX


 

Quando cruzares o Styx,

transportado por Caronte a outra margem,

lembrar-te-ás do que na memória guarda

todo viajante que alcança esse destino.

Da tua infância perdida

que a adolescência levou a outros páramos;

e do olhar vítreo, outonal, que acalentastes

como recordação de teu último instante vivo. 

Nos altiplanos, serás tu

alma vivente, subtraída da física armadura,

liberta num átimo de tempo para ires à fronteira

entre o que emana o alfa e ômega das existências.

Nutrirás de novo ar.

Tua pele será plasmada da luz que concebestes

e tua memória, se ocupará de reminicências

das vidas múltiplas que tu mesmo consagrastes.

Acordar-te-ão signos

de ultramontanos tempos, hoje tão seculares,

a anunciarem os novos passos de caminhante,

a organizar as células para o teu novo porvir.

Viverá tu, como anjos 

volitando livre pelas circuvizinhanças do céu 

mesmo que ainda dele não possas desfrutar

a divina virtude da ambicionada sublimação.   

Quando cruzares o Styx

serás o que tu és, na medida do que alcançaste 

e dominarás teus dias entre o silêncio e a dúvida 

tentando aclarar a todos esses teus conflitos.