Na boca da noite, a bruma resiste
em ser o que o mar a tudo converte.
Na praia, um homem prosta-se triste
diante do anjo que, ateu, se diverte.
A poesia do morto, ela está viva, existe
e busca fazer com que o povo liberte
o ego inflado, que sempre persiste
em que o laço da forca em si mais aperte.
Eu não devo dar explicação alguma
Sobre o que escrevo e o que não faço
Pois sou de maior e já passei dos trinta.
Quero apenas que me dêem só uma
chance de poder com esse meu traço
Sangrar o verso de minha vida extinta.
(Nonato Albuquerque, junho 2022)